Se por um lado há uma intensificação dos hábitos de reciclagem e da opção por produtos mais ecológicos, ao nível do consumo dos restantes bens a redução é generalizada.
Com efeito, nenhum dos segmentos amostrais considerados no estudo prevê qualquer alteração das suas atitudes actuais face à reciclagem das embalagens como consequência directa da recessão económica actual (a percentagem de inquiridos que afirma não alterar atitudes é em todos os segmentos superior a 85%).
«Fruto do trabalho que tem vindo a ser realizado há um crescimento da consciência dos cidadãos para a necessidade de protecção efectiva do planeta Terra. Verifica-se mesmo a intensificação da opção por produtos ecológicos/amigos do ambiente neste contexto de crise económica», refere Luís Veiga Martins, Director-geral da Sociedade Ponto Verde.
69% dos lares portugueses separa as embalagens usadas
Dos 1.075 inquiridos no âmbito deste estudo, em 69% é predominante a prática de separação domiciliária de lixo/embalagens usadas. Do total dos inquiridos, 47% é separador total, ou seja, separa todos os tipos de lixo/embalagens usadas actualmente passíveis de separação, enquanto 22% é separador parcial, ou seja, separa apenas parte do lixo, segundo dados do estudo, que pela primeira vez foi realizado com uma abrangência nacional. A inexistência de qualquer prática actual de separação de lixo/embalagens usadas assume-se como um cenário minoritário, afectando apenas 31% dos casos totais observados.
«Este é o valor mais elevado de sempre desde que o estudo começou a ser realizado em 2006, com as famílias a demonstrarem tendência para fazer a separação total. Fica demonstrado que os portugueses estão cada vez mais sensibilizados para a importância da reciclagem, aproximando-se dos valores de separação observado nos países do centro da Europa», salienta Luís Veiga Martins.
No contexto da família e dos separadores totais, o agregado do sexo feminino é o membro mais intensamente identificado com o lançamento da ideia de se passar a fazer em casa a separação de lixo/embalagens usadas (54%).
Junto de quem nunca realizou separação doméstica de lixo/embalagens usadas, a falta de recipientes próprios para o efeito (56% de referências totais) e a noção do excessivo trabalho pessoal/familiar implicado (45%) assumem-se como os argumentos mais evocados para justificar a não separação doméstica do lixo produzido.
Alentejo lidera prática da separação de resíduos
A prática de separação é maioritária em todas as regiões analisadas (Lisboa, Norte, Centro, Alentejo, Algarve), variando entre um mínimo de 63% (no Centro) e um máximo de 77% (no Alentejo). É no Alentejo que se observa o maior índice de adesão à separação onde, a par do Algarve, a maioria dos agregados já faz mesmo separação total de resíduos.
Por outro lado, o estudo dá conta de que é junto das famílias de estrato sócio-económico mais elevado que se observa uma maior sistematização da prática – e da prática total - de separação doméstica de lixo/embalagens usadas. No entanto, as restantes classes têm vindo a registar crescimento em relação a esta prática.
Quanto ao tipo de resíduos mais separados, destacam-se as garrafas, frascos e boiões de vidros com uma taxa de separação de 90%. Em segundo lugar encontram-se as garrafas de plástico e as caixas de cartão (78%) e os jornais e revistas (74%).
Os resíduos menos separados são as bases de esferovite para alimentos e as embalagens de aerossóis, como as embalagens usadas de espuma de barbear e de desodorizante (23%), bem como couvettes de metal de comida feita ou pré-cozinhada e as latas de conservas (32%).
Crise afecta consumo: Portugueses estão a mudar os hábitos alimentares
Já quanto ao consumo, os dados revelam um cenário distinto. Na sequência de estudos já realizados em anos anteriores, a Sociedade Ponto Verde decidiu promover um estudo tendente a determinar as atitudes e os comportamentos das famílias em matéria de separação domiciliária de lixo/embalagens usadas e o eventual impacto deste clima de crise económica nos hábitos ambientais dos portugueses.
Para quase metade (48%) dos 1075 inquiridos a nível nacional, a crise económica já teve impacto a nível dos hábitos alimentares respectivos. Esse impacto é equilibradamente distribuído a nível daquilo que se compra para consumir em casa e daquilo que se consome directamente fora do lar.
Quer no consumo fora de casa, quer dentro do lar, a crise parece ter efeitos evidentes no sentido de uma diminuição daquilo que se compra e consome. No consumo em casa, 92% afirma comprar menos para consumir em casa, enquanto 97% dos inquiridos afirma consumir menos fora de casa.
Nos restantes hábitos ambientais, prevê-se uma maior racionalização no consumo: a água e, sobretudo, a energia eléctrica são bens essenciais cujo consumo pelas famílias já é maioritariamente racionalizado devido à crise. Apenas 26% de famílias no caso da energia eléctrica e 32% no da água pensam manter constantes os respectivos volumes habituais de consumo. Para os restantes inquiridos, o objectivo é de redução em relação a estes dois bens essenciais.
O estudo foi realizado pela empresa Intercampus, num total de 1.075 entrevistas, recorrendo-se à técnica de observação directa e entrevista pessoal, realizadas entre 14 de Novembro e 20 de Dezembro em Portugal Continental.
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