Chegámos à reta final de 2025 e os números da reciclagem de embalagens continuam a deixar Portugal aquém das metas europeias, segundo os dados do SIGRE – Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens. Apesar de o investimento privado adicional quase ter duplicado em 2025, o país não vai conseguir atingir o objetivo de reciclar 65% de todas as embalagens colocadas no mercado até ao final do ano.
Mais investimento, poucos resultados
De janeiro a setembro, foram enviadas para reciclagem quase 369 mil toneladas de embalagens, apenas mais 2% do que no mesmo período de 2024. É um aumento residual que corresponde a apenas mais 8.013 toneladas e está longe de acompanhar o crescimento do investimento feito no sistema.
Nos primeiros nove meses do ano, a recolha seletiva de embalagens contou com 147,6 milhões de euros, um reforço de 63,8 milhões face a 2024. O aumento deve-se à atualização dos valores de contrapartida, as verbas pagas pelas entidades gestoras, como a Sociedade Ponto Verde, aos sistemas municipais e multimunicipais pela recolha e triagem de resíduos, que entraram em vigor a 1 de janeiro de 2025, por despacho do Governo.
Mas o problema está em que este reforço financeiro não se traduziu num salto equivalente nos resultados. Em vez de progresso acelerado, o país continua a avançar a passo lento.
Um paradoxo que preocupa
Apesar do aumento no investimento, a reciclagem de embalagens aumentou apenas dois pontos percentuais. É o que a Sociedade Ponto Verde chama de verdadeiro “paradoxo da reciclagem”: há mais dinheiro, mas não há mais embalagens recicladas.
O desafio agora é claro — garantir que cada euro aplicado tem impacto real: mais inovação, mais eficiência nos serviços municipais e dados mais transparentes sobre o desempenho do sistema.
Vidro, o eterno “calcanhar de Aquiles”
O vidro continua a ser o material que mais preocupa. Apesar de um reforço de 11,98 milhões de euros, os resultados mantêm-se estagnados, já que foram recicladas 165.071 toneladas de embalagens de vidro, exatamente o mesmo volume que no ano passado.
As embalagens de cartão para alimentos líquidos (ECAL) — como as de leite ou sumos — registaram uma quebra de 7%, o que significa menos 406 toneladas recolhidas (num total de 5.835 toneladas).
Já o papel/cartão (+4%), o plástico (+3%) e o alumínio (+3%) mostram uma evolução mais positiva:
- Papel/cartão: 122.537 toneladas recicladas
- Plástico: 66.005 toneladas recicladas
- Alumínio: 1.709 toneladas recicladas
São sinais encorajadores, mas ainda insuficientes para compensar o desempenho global.
O que precisa de mudar
Com mais recursos financeiros do que nunca, Portugal tem condições para fazer melhor — mas é preciso modernizar o sistema. A Sociedade Ponto Verde (SPV) defende que o foco deve estar em melhorar o serviço prestado aos cidadãos, investir em tecnologia e inovação, e reforçar a proximidade com as comunidades locais.
Reciclar é, afinal, uma responsabilidade coletiva. O sistema precisa de eficiência, mas cada um de nós também tem um papel a desempenhar.
Aquele frasco que colocas no vidrão, a garrafa no ecoponto amarelo ou a caixa no azul são pequenos gestos que, multiplicados por milhões de pessoas, fazem toda a diferença. Porque um país mais sustentável começa sempre contigo.