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PELOS CAMINHOS DE PORTUGAL
Pelos caminhos de Portugal
2016-04-14
Pelos caminhos de Portugal


Nos últimos anos, um pouco por todo o país, antigos caminhos agrícolas, velhos trilhos de pastores ou linhas de caminhos de ferro desativadas foram transformados em ecovias, ecopistas, corredores verdes ou passadiços, numa variedade de percursos pedestres e cicláveis que deram uma nova vida a regiões até então quase desconhecidas. Um dos melhores exemplos desta estratégia é o Plano Nacional de Ecopistas criado com o objetivo de requalificar antigas linhas e canais ferroviários, hoje transformados em vias de deslocações não motorizadas que valorizam o ambiente e a qualidade de vida, garantindo uma utilização segura para todas as idades ou capacidades físicas. A pé ou de bicicleta, é todo um novo Portugal por descobrir, de uma forma saudável e sustentável, com cada vez mais adeptos, porque o mais importante é mesmo não ficar parado…

 

 

Ecovia do Litoral

 

De Sagres a Vila Real de Santo António, a Ecovia do Litoral percorre toda a costa algarvia ao longo de mais de 200 km de via ciclável, por entre ciclovias preexistentes, estradas de tráfego misto com reduzido volume de circulação e percursos de Natureza em áreas protegidas, que revelam ao visitante todo o encanto desta região. Com início no cabo de São Vicente, junto a Sagres, no concelho de Vila do Bispo, percorre todo o litoral algarvio ao longo de 12 segmentos, sempre junto ao mar, correspondentes a outros tantos concelhos, para terminar junto ao cais de Vila Real de Santo António. É um Algarve bem diferente do dos hotéis e campos de golfe o que se mostra por estes caminhos, feito de arribas ocres, ribeiras que desaguam no mar e aldeias piscatórias.


Os velhos caminhos foram melhorados com novas pavimentações, passadiços de madeira e algumas pontes, como as da ribeira do Almargem (Tavira) e da lagoa dos Salgados (Silves), não faltando, ao longo do caminho, diversas placas com sinalização e informações sobre os pontos de interesse em cada etapa.

 


Ecovia do Lima

 

Ao todo, são quase 40 km ao longo das duas margens do rio Lima, ligando os municípios de Viana do Castelo, Ponte de Lima, Ponte da Barca e Arcos de Valdevez, numa série de percursos pedestres e cicláveis circulares que acompanham o curso do rio desde a montanha até à foz. A bicicleta é o transporte de eleição para a maioria dos que percorrem esta ecovia, constituída por cinco percursos. Um dos maiores e mais bonitos é o dos Açudes, entre Ponte de Lima e Ponte da Barca, que liga as duas vilas num troço de 14 km de açudes ao longo do rio. É antecedido pelo Percurso das Veigas, entre Deão, em Viana do Castelo, e Ponte de Lima – ambos na margem esquerda.


Já na margem direita fica o Percurso das Lagoas, entre Ponte de Lima e a ribeira da Silvareira, em Fontão, com início na ponte romana e fim na Paisagem Protegida das Lagoas de Bertiandos, e o Percurso de Refóios, entre a ponte medieval de Ponte de Lima e o Cais da Garrida, em Refóios do Lima. Por fim, há ainda o Percurso da Laranja, entre a aldeia de Ermelo e Vilarinho de Souto, já no concelho de Arcos de Valdevez, ao longo da margem direita do Lima e da Albufeira de Touvedo.

 


Ecopista do Dão

 

Desativada no final da década de 80, a Linha do Dão, que incluía a antiga ligação ferroviária entre Santa Comba Dão e Viseu, foi transformada, em 2011, na então batizada Ecopista do Dão. Com uma extensão total de 49 km, é a ecopista mais comprida de Portugal e sem dúvida uma das mais bonitas.

 

O percurso tem início em Santa Comba Dão, junto à margem do Dão, onde este se encontra com o seu afluente Paiva, acompanhando, durante os primeiros quilómetros, o curso do rio em todas as suas curvas, sempre com vista para a magnífica paisagem natural que é imagem de marca desta região. Um pouco mais à frente, a ecopista afasta-se do rio, entrando numa zona marcada pela fauna autóctone da Região Centro, com muitos sobreiros, castanheiros e carvalhos.

 

Já mais próximo de Viseu, atravessa também algumas vinhas, campos agrícolas e aldeias, avistando-se ao longe as serranias do Caramulo, a norte, e da Estrela, a sul. A ausência de grandes desníveis, aliada ao bom pavimento, que é pintado de azul no concelho de Santa Comba Dão, de verde em Tondela e de vermelho em Viseu, faz com que seja bastante acessível para todo o todo o tipo de caminhantes ou ciclistas.

 


Grande Rota Faial Costa a Costa - 800 mil anos de história

 

A primeira grande rota pedestre dos Açores conta com um total de 36 km e tem início junto ao Porto da Boca da Ribeira, na freguesia da Ribeirinha, cruzando a ilha de leste a oeste. Ao longo de cones vulcânicos, crateras, furnas e algares, acompanha a evolução geológica da ilha desde a erupção mais antiga até à mais recente, ocorrida em 1958, junto aos Capelinhos, na outra ponta da ilha.

 

Esta Grande Rota resulta da junção de três pequenas rotas anteriormente existentes (Caldeira, Levada e Capelo-Capelinhos), com a nova Rota dos Caminhos Velhos, criada a partir dos antigos caminhos rurais que ligavam as freguesias mais isoladas à cidade da Horta. A partida é junto ao mar, à quota zero, pelo Atalho do Farol, onde foram escavados degraus para facilitar a subida da íngreme encosta. Prossegue-se até ao Farol da Ribeirinha, destruído pelo sismo de 1998 e de onde se avistam as vizinhas ilhas do Pico e São Jorge, descendo-se daí até à localidade de Ribeirinha, pelo caminho do Antigo Valado, onde os antigos socalcos de cultivo estão hoje invadidos por uma floresta de incensos. A partir daqui é sempre a subir, num trecho mais exigente do ponto de vista físico, até atingir o Atalho da Vila, um dos mais belos desta rota, que percorre depois a Área Protegida dos Charcos de Pedro Miguel.

 

A enorme caldeira, com dois quilómetros de diâmetro e 400 metros de profundidade, marca o início da segunda etapa da Grande Rota. A partir daqui, tem início o trilho dos 10 Vulcões, que associa os três segmentos já anteriormente existentes no Faial, Caldeira, Levada e Capelo-Capelinhos ao longo dos 10 principais e mais recentes vulcões existentes no Faial.

 


Passadiços do Paiva

 

Apesar de inaugurados o ano passado, são talvez os passadiços mais conhecidos do país, e em poucos meses atraíram milhares de visitantes. Depois de parte destes passadiços terem ficado destruídos no verão passado devido a um incêndio, o percurso pedonal sobre as escarpas do rio Paiva reabriu ao público no dia 13 de fevereiro, com uma afluência limitada a 3500 visitantes diários e com a entrada a custar um euro por pessoa.


Ao todo, são 17 km (ida e volta) de passadiços de madeira, a serpentear por árvores e rochas, por vezes literalmente suspensos em falésias ou sobre pequenos desfiladeiros, sempre ao longo da margem esquerda daquele que é considerado o rio mais selvagem de Portugal, o Paiva. Tem início na típica aldeia de Espiunca, junto à praia fluvial. O troço inicial é em linha reta e quase plano, apenas com alguns pequenos lanços de escadas, o que permite apreciar a paisagem sem grande esforço. Mais ou menos a meio do percurso fica a Praia Fluvial do Vau, muito concorrida durante o verão, acessível desde os passadiços por uma ponte suspensa, ao melhor estilo dos filmes de Indiana Jones.


Prossegue-se então para o troço mais espetacular do percurso, que contorna a grande garganta do Paiva, após o qual é necessário vencer cerca de 500 degraus, até um miradouro, a quase 300 metros de altitude, com vista panorâmica sobre toda a região. A partir daqui é sempre a descer, até à Praia do Areinho, onde muitos voltam novamente para trás até ao ponto de partida.

 


Parque Linear Ribeirinho do Estuário do Tejo

 

A poucos quilómetros de Lisboa, o Parque Urbano da Póvoa de Santa Iria e o Parque Linear Ribeirinho do Estuário do Tejo, no concelho de Vila Franca de Xira, são garantia de um dia bem passado à beira rio. Até há pouco tempo, toda esta área era uma verdadeira lixeira, por entre resíduos industriais e esgotos despejados a céu aberto. Mas há cerca de dois anos tudo mudou com a construção destes dois parques urbanos ribeirinhos, que incluem mais de cinco mil metros de trilhos pedonais e cicláveis entre a ribeira da Verdelha, em Alverca, e o cais setecentista da Póvoa de Santa Iria. O centro nevrálgico de toda esta enorme área de lazer é o Parque Linear Ribeirinho do Estuário do Tejo. Estende-se por 40 hectares e inclui parque de merendas, zona desportiva, centro de interpretação do ambiente e da paisagem, estrados de solário e cafetaria.

 

Daqui parte também o Trilho do Tejo, um percurso pedonal de madeira, suspenso sobre estacas, que acompanha, ao longo de 700 metros, a margem do rio em direção à nascente. No sentido oposto, o Trilho da Póvoa conduz ao Parque Urbano da Póvoa de Santa Iria, uma área de sete hectares com zonas de lazer, parque infantil, anfiteatro ao ar livre, cafetaria, ginásio ao ar livre, campo de vólei e skate park. Bem no centro do parque, e também ele merecedor de visita, fica o núcleo museológico A Póvoa e o Rio, dedicado às antigas tradições avieiras, que por aqui ainda se mantêm bem vivas.

 


Percurso Pedestre do Casal de São Simão

 

Encavalitada numa encosta sobre um imenso vale, Casal de São Simão é uma pequena aldeia do concelho de Figueiró dos Vinhos onde o casario em xisto se confunde com as fragas e serranias circundantes. É daqui que parte o Caminho do Xisto do Casal de São Simão – Descida às Fragas, um percurso circular onde em apenas 5 km se pode apreciar uma enorme diversidade de paisagens.

 

Logo à saída da localidade, começa na maior mancha de sobreiros do concelho, numa imagem em tudo contrastante com a paisagem de pinheiros e eucaliptos que nas últimas décadas substituiu o bosque autóctone desta região. Continua depois pelo Vale da Abundância, a antiga área de cultivo da aldeia, onde hoje apenas subsistem algumas árvores de fruto. Não é preciso caminhar muito para tudo mudar novamente ao chegar ao “bosque reliquial”, uma surpreendente mancha de Floresta Laurissilva, verdadeiro monumento vivo do que foi esta região há milhares de anos. Avança-se depois ao longo da margem da ribeira de Alge, com as suas levadas e antigas azenhas a remeterem para um outro tempo, em que a relação entre homem e Natureza marcava o quotidiano destas gentes.

 

O ponto alto do percurso são as imponentes Fragas de São Simão, uma grandiosa escarpa, rasgada pela força da água, que aqui forma uma aprazível praia fluvial, irresistível quando o tempo está quente. O caminho de regresso passa ainda por Além da Ribeira, uma aldeia com meia dúzia de casas desabitadas, mas com alguns moinhos de água ainda em funcionamento, continuando depois submerso num bosque, ao longo da ribeira do Fato, até se chegar novamente ao Casal de São Simão.

 


Rota dos Fósseis

 

Quem, desde a muralha do velho Castelo de Penha Garcia, no concelho de Idanha-a-Nova, avista estas escarpadas arribas, dificilmente imaginará que em tempos todo este território esteve submerso por um mar pouco profundo. A prova está lá em baixo, nos fósseis deixados na rocha pelos trilobites, uma espécie de artrópodes marinhos que viveu nos mares do Paleozóico há cerca de 500 milhões de anos. Movimentavam-se arrastando-se pelo fundo do mar, e são essas marcas, denominadas de “cruzianas”, que hoje fazem as delícias dos visitantes.

 

O percurso, de apenas 3 km, percorre todo o desfiladeiro escavado pelo rio Ponsul, que cai em pequenas cascatas até acalmar numa convidativa piscina fluvial, com deck de madeira, sobre o vale. Esta pequena rota assume-se, assim, como uma viagem no tempo, até aos primórdios da vida, ao longo de um dos principais tesouros do Geopark Naturtejo, que tem atraído até à pequena aldeia beirã paleontólogos e cientistas de todo o mundo, bem como muitos outros visitantes. O percurso continua depois ao longo das antigas casas dos moleiros e dos seus moinhos de rodízio – movimentados a água –, até regressar de novo a Penha Garcia.

 


Rota Vicentina

 

Criada em 2012, divide-se em dois percursos alternativos, o Trilho dos Pescadores e o Caminho Histórico, que se cruzam em Porto Covo e Odeceixe, permitindo conhecer toda a riqueza cultural, paisagística e social de um dos mais bem preservados troços costeiros da Europa. Mais exigente do ponto de vista físico, o Trilho dos Pescadores inclui quatro etapas e cinco circuitos complementares. São mais de 120 km, que ligam Porto Covo ao cabo de São Vicente, sempre junto ao mar, por entre falésias, enseadas e praias desertas, através dos trilhos usados há gerações para aceder aos pesqueiros. Mais para o interior, o Caminho Histórico percorre um itinerário rural com vários séculos de história, entre montados, serras e vales de rios e ribeiras.

 

Com uma extensão de 241 km, num total de 13 etapas, está integrado na Grande Rota Europeia, que liga Sagres à cidade de São Petersburgo, na Rússia. Para quem só conhece o litoral, a riqueza da paisagem é surpreendente, revelando locais como o Pego das Pias, entre a aldeia de São Luís e a vila de Odemira, onde a ribeira do Torgal passa por um estreito desfiladeiro, formando em seguida um pequeno lago, ou o Alto de São Domingos, ponto mais alto da serra do Cercal, com 380 metros e vista panorâmica sobre toda a região, desde a costa até às planícies do interior, ou ainda a Rocha de Água de Alto, uma queda de água com mais de 30 metros, entre Vila Nova de Milfontes e o Cercal, situada mesmo no sopé da serra.

 


Via Algarviana

 

Entre o Guadiana e o Atlântico, esta grande rota une as duas fronteiras naturais do Algarve através do interior. Tem início em Alcoutim, junto ao rio Guadiana, e termina no cabo de São Vicente, atravessando longitudinalmente a região ao longo de mais de 300 km, que compreendem 11 concelhos e 21 freguesias. Segundo a lenda, este caminho terá tido origem num antigo trilho religioso moçárabe, percorrido na Idade Média pelos peregrinos vindos do interior alentejano e algarvio em direção ao promontório de Sagres, onde foram encontradas as relíquias de São Vicente. Hoje, a atual rota, para além de ter voltado a colocar no mapa localidades há muito esquecidas, funciona também como a espinha dorsal de uma extensa rede de percursos pedestres no Algarve. Está segmentada em 14 troços de 30 km, cada um assinalado no terreno com painéis interpretativos, respetiva ficha informativa e outros serviços de apoio.
 

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