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ELIXIR DA PRODUTIVIDADE
Elixir da Produtividade
2013-05-17
Elixir da Produtividade

A felicidade tornou-se uma vantagem competitiva, por isso há cada vez mais empresas a apostar na saúde e bem-estar dos seus quadros.
Em recursos humanos, pensar fora da caixa é não ter medo de presentear os colaboradores com tudo o que merecem.

 

Nem tudo são más notícias. Se é verdade que a crise desumanizou o mercado, instigando à competição desenfreada, por outro lado expôs o papel dos activos humanos no sucesso das empresas. Na busca de receitas inovadoras para aumentar a produtividade, os empresários descobriram que há mais vida além do trabalho, e que a motivação e o bem-estar dos seus colaboradores têm maior impacto nos resultados das organizações do que horários pesados e altos níveis salariais. Aos poucos esta convicção consolida-se através das notícias que chegam a público sobre as empresas que apostam nessa via e conseguem não só aumentar a facturação, como passar uma imagem de excelência para o mercado. É toda uma cultura empresarial que está a mudar, com vantagens para todos: empresários, colaboradores e até empreendedores, que vêem nas novas políticas de gestão de recursos humanos uma oportunidade.

Foi o caso de Pedro Costa, que percebeu haver espaço no mercado para um projecto de saúde e bem-estar dirigido às empresas. Chamou-lhe Get Zen e diz que mais do que um produto promove “um conceito e uma filosofia de vida”. “Trabalhamos a saúde através de exercícios físicos, massagens e fisioterapia, mas também de programas de relaxamento e alimentação saudável. Na fase das marmitas tornou-se mais fácil educar as pessoas em termos alimentares, por isso também vimos nesta circunstância uma oportunidade para intervir na área do wellness empresarial de forma mais integrada”.

Filipa Amaral, vice-presidente de marketing do Clube TAP, centro cultural e recreativo da companhia aérea, levou a Get Zen à empresa e gostou. “Montaram um gabinete de massagem com música ambiente, luz de velas, aromas, e fizeram sessões individuais com cada um de nós. Nunca tínhamos experimentado nada semelhante na TAP, mas a adesão foi total e no fim todos disseram que queriam repetir”, conta. Depois de passar pela marquesa Filipa sentiu-se revigorada: “Num local stressante como um aeroporto, é essencial ter momentos de descontracção cujos efeitos se repercutam por muitas horas. Uma pausa para um café não chega”.

Feng shui, shiatsu, musicoterapia, terapia do riso e caminhadas nórdicas são algumas das actividades que a Get Zen propõe às empresas conforme as suas necessidades. Mas verdadeiramente exclusiva é a oferta de um tipo de ginástica que a marca concebeu com bolas de pilates, a que chama Zen Ball. “O conceito está a ser desenvolvido em termos científicos por colaboradores nossos com formação em fisioterapia. É inovador porque associa a ginástica a exercícios de fisioterapia”, explica Pedro Costa. A completar o primeiro ano de actividade, a Get Zen está a abrir caminho no mercado: “Quando as empresas percebem que levar saúde e bem-estar para o seu seio aumenta a produtividade e diminui os custos relacionados com baixas e seguros de saúde, passam a encarar os serviços que oferecemos como um investimento com retorno garantido e não uma despesa”.

 

Pausa para ginástica

No parque industrial da Autoeuropa decorre uma aula de ginástica com operários fabris. A sessão realiza-se dentro do horário de trabalho e nas próprias instalações da fábrica, a poucos metros das linhas de montagem de componentes para automóvel, onde labora o grupo que começa a fazer os exercícios de aquecimento. Durante cerca de 15 minutos fazem alongamentos, jogos de coordenação de movimentos, mas também trocam piadas. O momento é desfrutado com evidente prazer. Iniciaram esta experiência há dois anos, ao ritmo de duas vezes por semana.

Paula Cabrita, uma das beneficiárias, diz que este programa lhe caiu do céu: “A ginástica tem sido muito importante para mim, porque como passo o dia a lixar peças à mão, canso muito os braços. Antes tinha sempre muitas dores, sobretudo nos ombros, agora ando muito melhor”. Também Mafalda Ângelo, outro elemento do grupo, já não passa sem a sua ginástica. “Devia ser todos os dias”, desabafa com um sorriso. Porque não é só ao corpo que lhe faz bem: “Saio daqui sempre muito menos stressada”, admite. Não fosse a iniciativa da Workwell, empresa que leva este programa à Autoeuropa, e Paula e Mafalda provavelmente não saberiam até que ponto ter ou não ter ginástica no local de trabalho faz a diferença.

Desde 2008 que é precisamente esse o discurso que João Sousa, manager da Workwell, faz aos empresários e directores de recursos humanos que contacta. E a verdade é que as virtudes do exercício físico são já tão reconhecidas que não lhe tem sido difícil sensibilizar os potenciais clientes para as vantagens do serviço que oferece, apesar da crise. “Temos um crescimento sustentado, com empresas a aderir de norte a sul. Ao fim de três meses os benefícios da ginástica começam a notar-se, de modo que muitas renovam os contratos connosco. De facto, todos ficamos a ganhar com este tipo de serviço”.

 

Só o salário não chega

Antes não se faziam rankings das melhores empresas para se trabalhar; hoje são várias as entidades que se ocupam desse escrutínio e cada vez mais as empresas a candidatar-se a essa distinção. Raquel Rebelo, organizadora da Expo RH, encontro anual dirigido a todos os profissionais que actuam na área de recursos humanos, testemunha a evolução que o mercado registou desde que lançou o evento, há 12 anos. “Em 2001 não havia a mesma preocupação com a qualidade de gestão das equipas. Hoje sabe-se que a motivação pelo aumento salarial é temporária e que o bem-estar é decisivo para levar os colaboradores a vestir a camisola”. A Expo RH, que na primeira edição atraiu 550 pessoas, reuniu este ano, nos dias 13 e 14 de Março no Centro de Congressos do Estoril, 3.200, número considerável visto ser uma iniciativa para um nicho de mercado. Entre as atracções da feira não faltou a apresentação de empresas fornecedoras de programas de wellness empresarial, oferta que, segundo Raquel Rebelo, começou a ter expressão no mercado há pouco mais de três anos.

Kula foi uma das vedetas desta edição da feira. Com percurso ligado à música, este português de origem cabo-verdiana empenhou-se em descobrir a fórmula que lhe permitisse viver dela. Foi assim que lançou a Ritmundo, empresa que trabalha sobretudo na área do team building. “Improvisamos situações que envolvem o corpo como instrumento do ritmo, do movimento e do canto”, descreve. Na prática, Kula, músico que também foi performer, põe grupos a tocar instrumentos de percussão, a fazer vocalizações e a dançar ao ritmo dos sons que se vão improvisando, mas de acordo com uma harmonia que exige trabalho de grupo. “É uma técnica que trabalha a coordenação e comunicação entre pares. Algo que nos transporta para os ritos tribais em que me inspirei para criar exercícios de team building”, resume. A apresentação foi um êxito. Encheu um auditório com capacidade para 500 pessoas e nos dias seguintes o telefone da Ritmundo, garante Kula, não parou de tocar.

Procurar sentido no trabalho seria algo impensável há uma geração atrás. Agora que os efeitos do ritmo desenfreado já se conhecem, está na hora de contratar a felicidade para gestora de projectos. As ferramentas já andam por aí.

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