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BELEZA SEM ADITIVOS
Beleza sem aditivos
2013-08-20
Beleza sem aditivos

Do creme hidratante ao champô, perdemos conta à quantidade de produtos de cosmética e higiene pessoal que usamos diariamente. 
Se pensa que as diferenças entre marcas resumem-se ao aroma e ao preço, desengane-se. 
A cosmética não é toda igual.

De tez e cabelos claros, as irmãs Rita e Cátia Curica abriram em 2009 a primeira loja de cosmética biológica em Portugal. “Nasceu de uma necessidade pessoal”, diz Rita. Com dermes muito reactivas, tinham dificuldades em encontrar produtos adequados às suas características. Adeptas da agricultura biológica, renderam-se também à cosmética biológica. E trouxeram o conceito para Portugal, com a inauguração da primeira loja Organii no Chiado, em Lisboa. À qualidade dos produtos aliam uma cadeia de valor em respeito pelo ambiente e pelas pessoas. A oferta é vasta, de cremes de rosto a loções de corpo, de maquilhagem a cuidados de higiene. O sector da cosmética natural está em crescimento. Segundo um estudo lançado em Novembro de 2011 pelo Organic Monitor, empresa de investigação e consultoria do Reino Unido especializada em produtos biológicos, o mercado dos produtos de cosmética natural terá atingido 9 mil milhões de dólares nesse ano. E estima- -se que chegue a 14 mil milhões de dólares em 2015.

As preocupações verdes estão na ordem do dia e a cosmética não passa ao lado desta causa. Marcas afamadas e mesmo centenárias desenvolvem linhas eco, adoptam medidas sustentáveis, apostam em ingredientes biológicos. Por outro lado, cresce a procura em torno de soluções caseiras, feitas o mais natural possível, livres de aditivos ou conservantes. Não admira, por isso, que os workshops de cosmética natural estejam em voga. “As pessoas estão mais preocupadas com os produtos que usam, não só pelos efeitos na pele e na saúde, mas também porque estão mais sensibilizadas para a sustentabilidade ambiental. Não esquecendo ainda o aspecto económico”, refere Irene Morais, formadora, que tem proposto estas acções a entidades como centros de monitorização e interpretação ambiental e núcleos da Quercus. Com recurso a ingredientes do dia-a-dia como frutos, mel, produtos lácteos, flocos de aveia e amêndoa, ensina a preparar loções de limpeza de pele, tónicos faciais, esfoliantes de rosto e corpo, máscaras de rosto e cabelo, e bálsamo labial. “Os produtos obtidos são perfeitamente alternativos aos de cosmética industrial, essencialmente para manutenção de um bom estado da pele e do cabelo; não tanto em situações de tratamento de pele”, ressalva.

 

Natural é bom?

Também Francisca Vidal prepara cosméticos caseiros. O que começou em Dezembro passado “com pequenas experiências de sabão” é hoje a marca Da’Ki, em processo de certificação. “Temos uma gama de sabão 100% azeite com argila, limão e mel, cereja do Fundão, limão e hortelã, pimenta e canela, chá de camomila e erva-príncipe e pigmento natural ultramarino com alecrim”, enumera. Há ainda uma linha de hidratantes labiais com óleo de amêndoas doces e cera de abelha com aromas de alecrim, alfazema, citronela e mel. A Da’ki privilegia as matérias-primas da região onde nasceu, a Cova da Beira, o que faz “com que seja algo muito distintivo”, diz a mentora deste projecto. Os óleos essenciais utilizados são certificados e biológicos, garante. Aperfeiçoar os cremes de corpo e continuar a criar novos sabões são os passos seguintes. Para Francisca não há dúvidas de que “o que é natural é bom, até porque é feito com carinho e de forma artesanal. Não usamos químicos, o sabão tem o tempo certo de cura e é pensado como se fosse único, colocando em cada um propriedades ricas e distintas”.

Conceituada dermatologista, com consultório em Lisboa, Manuela Cochito tem dúvidas quanto a estas soluções. “Enquanto os cremes convencionais obedecem a um conhecimento científico apurado nos últimos 100 anos – em que se excluíram substâncias várias que se demonstrou poderem ser nocivas –, e são submetidos a um enorme número de testes, os ditos artesanais ou ‘naturais’ desperdiçam esse saber e investigação para voltar décadas atrás”, afirma. E acrescenta: “Na natureza encontramos muita coisa boa, sem dúvida, mas também os maiores venenos, alérgenos e substâncias tóxicas”. Além disso, a maior parte dos cremes convencionais usam “ácidos de frutas, isoflavonas e muitos outros extractos de plantas”. A diferença reside na forma de processá-los e conservá-los, diz. Diferença que não é, de todo, inócua, considera Rita Curica, da Organii. “Quando analisamos a composição de um cosmético bio e de um convencional, a parte onde são mais parecidos é nos princípios activos. E acredito que os nossos são ainda mais eficazes porque esses extractos são obtidos de forma ainda mais pura”, defende. Além disso, os cosméticos convencionais usam substâncias que o nosso organismo não processa, como os derivados do petróleo, adverte. Mais: “O que se procura na cosmética biológica é estimular as propriedades naturais da pele, sempre dentro daquilo que consegue fazer de forma natural e eu diria, até, saudável”, explica Rita.

 

Escolhas conscientes

Com o lançamento da primeira loja de cosmética biológica em Portugal (hoje existem mais três espaços Organii), Rita e Cátia Curica quiseram, desde logo, “trabalhar para a informação das pessoas, para que possam fazer escolhas em consciência”. Até porque o sector da cosmética carece de legislação que regulamente práticas e defina designações como cosmética natural. “Natural quer dizer que tem extracto natural. Podemos ter um produto com 1% ou 2% de um extracto natural – que até pode ser obtido de forma sintética – e chamá-lo de produto natural, ao qual podemos adicionar derivados de petróleo”, lamenta Rita Curica. E se a agricultura biológica tem preceitos e obrigações que tem de seguir, o mesmo ainda não sucede no universo da cosmética. Daí que as certificações sejam importantes, sobretudo para ajudar o consumidor. A Ecocert surgiu em 1991 em França (três anos depois em Portugal), e estabeleceu em 2003, com o envolvimento dos vários intervenientes na cadeia de valor, padrões para cosméticos naturais e orgânicos. Os standards Ecocert definem que os ingredientes usados derivam de fontes renováveis, preparados em respeito pelo ambiente. Parabenos, PED, perfumes sintéticos, entre outros químicos, não são permitidos.

Apesar de terem ligeiras diferenças entre si, a Ecocert exige que os selos Organic e Natural tenham, no mínimo, 95% do total dos ingredientes de origem natural. Quanto às embalagens, têm de ser em materiais biodegradáveis ou recicláveis. Outra entidade certificadora é a Cosmébio, criada em 2002, responsável por dois guias registados no ministério francês da indústria. Quer para o rótulo Bio quer para o Eco define que, pelo menos, 95% dos ingredientes ou derivados sejam de fontes naturais. Depois, exige que para o rótulo Bio pelo menos 95% dos ingredientes vegetais e 10% dos constituintes sejam de produção biológica, valores que passam para 50% e 5% respectivamente, no caso do rótulo Eco. A certificação não é obrigatória, deve partir das marcas, mas é um selo de qualidade. E útil, ou não fossem os rótulos dos produtos de cosmética e higiene corporal difíceis de interpretar para grande parte da população.

Para dar uma ajuda, a Organii criou um cartão com a lista de alguns ingredientes a evitar (ver caixa “Atenção aos rótulos!”). “Até que se prove que um produto é nocivo, é permitido”, lamenta Rita Curica, referindo, a título de exemplo, a polémica em torno dos parabenos, que continuam a integrar a lista de constituintes de vários artigos. “Quanto aos cuidados a ter quando compramos cosméticos, penso ser quase impossível a um leigo na matéria entender- se só pelos rótulos”, reconhece a dermatologista Manuela Cochito. “Existem tantas substâncias e tantos conservantes que não podemos ser simplistas”. Se tem dúvidas, informe-se. E peça ajuda a especialistas. Afinal, um creme é muito mais do que a textura, aroma e preço.

 

Atenção aos rótulos!

Na hora de escolher um produto – creme facial, loção de corpo, champô, … – há substâncias que deve evitar. The Campaign for Safe Cosmetics, coligação norte-americana lançada em 2004 que procura proteger a saúde dos consumidores e dos trabalhadores do sector, destaca alguns:

 

TRICLOSAN

Agente antimicrobiano que se acumula no nosso organismo relacionado com alterações hormonais e o aparecimento de bactérias resistentes a antibióticos. Podem surgir em sabonetes e detergentes antibacterianos, desodorizantes, pasta de dentes.

 

ALMÍSCAR SINTÉTICO (MUSKSINTÉTICO)

Classe de químicos adicionada como aromas sintéticos a perfumes, loções, ... Estudos

relacionam o musk sintético a alterações hormonais e sensibilidade da pele ao sol.

 

FORMALDEÍDO

Comum em champôs e géis de banho, previne o desenvolvimento de bactérias em produtos à base de água, mas pode ser absorvido através da pele. Associado à sensibilidade na pele e ao cancro, a União Europeia limitou o uso de formaldeído em produtos de higiene pessoal e exige que todos os que usam este ingrediente refiram-no de forma explícita.

 

FTALATOS

Usados nos cosméticos para fixar cores e perfumes, são associados a alterações no sistema hormonal, baixa qualidade espermática, infertilidade e cancro de mama.

 

PARABENOS

Comuns em champôs, condicionadores, loções de limpeza facial, são utilizados para prevenir o desenvolvimento de micróbios. Estudos relacionam-nos com o aparecimento de cancro, alterações endocrinológicas, irritação na pele, .... Os mais comuns nos cosméticos são ethylparaben, butylparaben, methylparaben e propylparaben.

 

E ainda…

Butylene Glycol, Clyclomethicone, Dimethicone, Ethylene Glycol, Mineral Oil, EDTA, Monoethanolamine (MEA), Butylated Hydroxytoluene, Parafinum Liquidium, Petrolatum ou Vaselina, Polyethylene Glycol (PEG), Polypropylene Glycol (PPE), Sodium Lauril Sulphate, Diethanolamine (DDA), Triethanolamine (TEA), Propylene Glycol e Aluminum Chlorohydrate

(Fonte: Organii)

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