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FLORESTA MÁGICA
Floresta Mágica
2013-11-26
Floresta Mágica

Envolta na suavidade da bruma, a Laurissilva, na Madeira, é um esconderijo da natureza, ali preservada no estado mais puro. 
Uma floresta que remonta ao tempo dos dinossauros, proeza que lhe vale o epiteto de fóssil vivo.

 

Todos sabemos que não existem fadas nem gnomos, mas num passeio pela floresta Laurissilva, na ilha da Madeira, quase somos atraiçoados pela imaginação, jurando ver aquilo que ali não está. Com toques de magia e surrealismo, trata-se de uma floresta única, de rara beleza e valor, características reconhecidas, aliás, pela UNESCO, que a designou Património Mundial Natural da Humanidade em 1999. Típica dos arquipélagos da Macaronésia – Madeira, Açores, Canárias e Cabo Verde – é na ilha madeirense que se encontra a maior mancha verde deste tesouro vegetal: 15.000 hectares integrados, na quase totalidade, no Parque Natural da Madeira (PNM). Afamada pela biodiversidade de espécies de flora e fauna que acolhe, é também conhecida como “floresta produtora de água”, refere o director do PNM, Paulo Oliveira. Mais do que música de fundo num périplo por este manto verdejante, os cursos de água contribuem “para o equilíbrio hídrico essencial à vida e ao devir colectivo do ecossistema, da ilha da Madeira e do próprio Homem”.

 

Tesouro natural

 

O nome Laurissilva resulta de dois termos do latim: laurus e silva, que significam loureiro e floresta, respectivamente. “Muitas das árvores presentes são centenárias, constituindo verdadeiros monumentos naturais”, afirma o director do PNM. Destaca-se o til, o loureiro, o vinhático e o folhado. Mas há muitas mais (ver caixa Roteiro Vegetal). A não perder, as orquídeas exclusivas da ilha madeirense: Goodyera macrophylla e Dactylorhiza foliosa. A primeira é perene, “as plantas mantêm-se à superfície durante todo o ano, enquanto a segunda é uma espécie vivaz, ou seja, permanece no solo sob a forma de tubérculo durante a época mais desfavorável”, explica Paulo Oliveira. Os fetos são muito abundantes na floresta Laurissilva, “com maior exuberância nos vales profundos e sombrios”, entre os quais alguns raros, e os líquenes, dos quais “algumas espécies indicam a elevada qualidade ambiental e a inexistência de poluição”, assegura o director do PNM.

Também no reino animal são várias as espécies que se abrigam na Laurissilva. E não faltam endemismos, em especial no grupo dos invertebrados, “principalmente a nível de insectos e dos moluscos terrestres”, aponta Paulo Oliveira. Já nos vertebrados as atenções viram-se para espécies raras de morcegos e aves, como o pombo-trocaz (espécie endémica da Madeira), o tentilhão e o bisbis.

A Laurissilva “é considerada uma relíquia do Terciário, albergando seres vivos que existem desde esse Período e outros que evoluíram desde então até aos nossos dias”, explica o responsável do PNM. Razões mais do que suficientes para partir à descoberta deste fóssil vivo onde a realidade, de tão fantástica, quase supera a imaginação.

 

Roteiro vegetal

A floresta Laurissilva é um autêntico tesouro vegetal. Um livro aberto à espera de ser descoberto. Eis algumas das espécies que a constituem:

 

Árvores  

- Til (Ocotea foetens)

- Loureiro (Laurusnovocanariensis)

- Vinhático (Persea indica)

- Folhado (Clethra arborea)

- Pau-branco (Picconia excelsa)

- Perado (Ilex perado)

- Aderno (Heberdenia  excelsa)

- Sanguinho (Rhamnus glandulosa)

- Sabugueiro (Sambucus lanceolata)

- Mocano (Pittosporum coriaceum)

- Azevinho (Ilex canariensis)

- Faia (Myrica faya)

- Mocano (Visnea mocanera)

 

Arbustos

- Urze-das-vassouras (Erica scoparia ssp. maderincola)

Isoplexis spectrum 

- Uveira (Vaccinium padifolium)

- Língua-de-vaca (Sonchus fruticosus)

- Douradinha (Ranunculus cortusifolius)

 

Herbáceas

- Palha-carga (Festuca donax)

- Erva-redonda (Sitbthorpia peregrina)

 

Fetos (raros)

- Culcita macrocarpa

- Hymenophyllum maderense 

- Polystichum drepanum

 

 

Trilhos na Laurissilva

 

A costa norte da ilha da Madeira é a zona privilegiada para partir à descoberta da floresta Laurissilva. No site de turismo da Direcção Regional do Turismo da Madeira (www.visitmadeira.pt) encontra seis percursos que lhe permitem admirar a beleza da região e desta relíquia vegetal que remonta ao Período Terciário da Terra.

 

Um caminho para todos – Queimadas

Com a extensão de 2,1 Km, este percurso começa no Parque Florestal das Queimadas e termina no Parque Florestal do Pico das Pedras. Ao longo do passeio é possível apreciar uma mancha de transição entre a floresta Laurissilva e a floresta “exótica”, com árvores introduzidas pelo Homem. Este périplo é inclusivo, adequado a pessoas com incapacidades motoras e visuais.  

Duração: 45 minutos

Distância: 2,1 Km

 

Caminho do Norte

Com uma altitude mínima de 320 metros e máxima de 1.000 metros, este périplo decorre entre a Encumeada (Boca da Encumeada, concelho da Ribeira Brava) e Ribeira Grande, no concelho de São Vicente, seguindo os trilhos de uma antiga vereda, outrora usada pelos habitantes que por ali se deslocavam entre as localidades do sul e do norte. O início deste percurso desenrola-se precisamente no interior da floresta Laurissilva. Ao atravessar a Estrada Regional 228 o caminhante depara-se com a floresta de transição, onde já predominam as espécies da floresta exótica.  

Duração: 2 horas

Distância: 3,2 Km

 

Vereda do Chão dos Louros

Percurso circular que pode ser iniciado em vários pontos do trajecto, percorrendo a área envolvente do Parque Florestal do Chão dos Louros. O contacto com a floresta Laurissilva é estreito, sendo possível admirar as árvores de folha persistente da família das Lauráceas, como o loureiro, o til ou o vinhático.

Duração: 1 hora

Distância: 1,9 Km

 

Levada do Furado

A levada que dá nome a este percurso é uma das mais antigas pertencentes ao Estado, adquirida em 1822, e permite aos caminhantes admirar um sem fim de tonalidades de verde, colorido das espécies que formam a floresta Laurissilva. É também possível avistar algumas aves, como o pequeno bisbis e o destemido tentilhão, e, com sorte, o endémico pombo trocaz.   

Duração: 5 horas

Distância: 11 Km

 

Levada do Rei

Este percurso começa na Estação de Tratamento de Água nas Quebradas em São Jorge e culmina junto à madre da levada, no Ribeiro Bonito. No início decorre numa zona florestal mista, mas a partir do meio do trilho desenrola-se numa deslumbrante área de floresta natural, com magníficos túneis de vegetação luxuriante. Junto à Ribeira Bonito encontra-se uma das áreas mais marcantes da floresta Laurissilva: ali, o manto vegetal atinge o expoente máximo.

Duração: 3horas

Distância: 5,1 Km

 

 

Nunca é de mais recordar…

 

Desfrutar da natureza é um direito de cada um de nós, mas implica cuidados que todos devem adoptar: para que a beleza natural e a biodiversidade das espécies perdurem para as gerações seguintes. Afinal, o planeta é um grande condomínio que pertence a todos. E todos somos responsáveis pelo estado em que o deixamos.

 

Preparativos

Leve consigo água, mantimentos, sacos para o lixo, calçado e roupa adequados, chapéu, protector solar, mapa da área protegida, bússola e contactos das autoridades locais (caso encontre alguma irregularidade, não hesite em comunicá-la às entidades competentes). Antes de partir à descoberta da natureza dê conhecimento a terceiros da actividade que vai fazer, quando e onde.

Sinalização

O respeito pela sinalização de trilhos não só minimiza o impacto humano sobre as outras espécies que vivem nas áreas protegidas, como garante a segurança dos visitantes. Ajude à sua manutenção e se detectar sinais destruídos ou alterados informe a entidade gestora da área em causa.

 

Zero interacções

A grande atracção das áreas protegidas prende-se com o seu carácter selvagem e natural. Para que assim continue, não altere a flora, cortando, arrancando ou levando espécies para fora da área, e não interaja com os animais. Observe-os à distância, se necessário com o apoio de binóculos, e não os alimente.

 

Sem souvenirs

Não apanhe plantas nem recolha animais ou amostras geológicas. As melhores recordações que poderá levar consigo são as experiências que viver no momento e as fotografias que tirar.

 

Qual pegada?

Mesmo os resíduos ditos biológicos ou orgânicos, como restos de comida, apesar de degradarem-se e transformarem-se mais facilmente do que os outros, podem ter consequências na conservação da natureza. Todos os resíduos que produzir no local devem ser guardados e depositados nos contentores adequados. Não deixe pegada.

 

“Não incomodar”

Desfrute dos sons da natureza: não leve rádios nem outros aparelhos sonoros. Sons bruscos para detectar a presença dos animais provocam-lhes stress, especialmente prejudiciais em determinadas alturas do seu ciclo de vida, como a fase reprodutiva. Aproveite a natureza para saborear um piquenique, mas faça-o apenas nos parques de merendas disponíveis para o efeito, e acampe só nos locais autorizados. Não faça fogo excepto nos locais próprios.

 

Respeito pelos outros

É frequente as áreas classificadas incluírem zonas de propriedade privada que devem ser respeitadas: não recolha produtos dos terrenos (frutos ou plantas), não danifique infra-estruturas, feche as cancelas que encontrar durante o percurso, tenha cuidado com o gado, … Na ilha da Madeira, onde muitos trilhos decorrem ao longo das levadas, não se esqueça que estas servem, muitas vezes, para a rega dos campos agrícolas e/ou a produção hidroelétrica. Assim, existem várias infra-estruturas específicas que não devem ser alteradas ou destruídas.

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