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AFINAL O QUE É O COMÉRCIO JUSTO?
Afinal o que é o comércio justo?
2010-08-01
Afinal o que é o comércio justo?

Comprar produtos “comércio justo” – nacionais ou estrangeiros – ajuda a combater as desigualdades sociais e preservar o ambiente.
A tendência já chegou às grandes multinacionais e hipermercados.

 

Recicla vidro, metal, papel, plástico e cortiça. Compra produtos de limpeza amigos do ambiente e frescos de produção orgânica. Julga-se um consumidor responsável. Está, efectivamente, a contribuir para um mundo mais justo? Sem dúvida. Só que ainda pode fazer melhor: comprar, sempre que possível, produtos provenientes do comércio justo. Significa isto que estará a adquirir bens – sobretudo alimentares, têxteis e artesanato – que, ao longo de toda a sua linha de produção e comercialização, foram pagos com justiça aos seus produtores muitas vezes marginalizados, especialmente no hemisfério sul.

Os produtos provenientes do comércio justo (e devidamente certificados) respeitam pelo menos quatro premissas: o pagamento do preço justo ao produtor; o pré-financiamento da produção até 60% para que estes não se endividem a fim de comprar matérias-primas ou ferramentas; contrato de longa duração, no mínimo de 5 anos, para permitir a estabilidade do produtor, e práticas agrícolas que respeitem o equilíbrio ecológico.

Carlos Gomes, da Mó de Vida, uma das principais cooperativas impulsionadoras do comércio justo em Portugal, afirma: “Os objectivos são claros. Por um lado criar produtores e consumidores conscientes em toda a cadeia económica e, por outro, desenvolver espaços alternativos que se articulem em redes locais e globais, facilitando as condições para ampla mobilização social”.

O movimento pode ainda estar a dar os primeiros passos em Portugal, mas segundo dados da associação Reviravolta, também dedicada à divulgação do comércio justo, já existem mais de 800 cooperativas em 45 países do Sul, que representam nada menos do que um milhão de trabalhadores. Estima-se que cerca de 5 milhões (sobretudo agricultores e artesãos) estejam a ser beneficiados.

 

EXPANSÃO MUNDIAL

Actualmente existem mais de 2 mil lojas de comércio justo ou do mundo na Europa. A maioria é gerida por associações sem fins lucrativos e o seu funcionamento é assegurado por voluntários. No entanto, nos últimos anos – quer por pressão dos consumidores mais exigentes, quer das ONG – o comércio justo tem conquistado grandes cadeias internacionais. A rede de cafetarias Starbucks, por exemplo, está perto de comercializar apenas café expresso 100% certificado. É uma proposta arriscada visto que este é 30% mais caro do que o tradicional, mas é provável que a estratégia de marketing funcione e que o consumidor ceda perante as boas práticas sociais anunciadas. Como a Starbucks, outras gigantes do sector alimentar começam a abraçar a causa: a fabricante de chocolates Cadbury garante que desde finais de 2009 todas as tabletes do tradicional Cadbury Dairy Milk são totalmente produzidas com cacau certificado e afirmou que investiria cerca de 64 milhões de dólares para ajudar a garantir o desenvolvimento económico, social e ambiental sustentável de um milhão de agricultores de cacau nas comunidades do Gana, Índia, Indonésia e Caraíbas. Enquanto isso, o grupo Unilever assegurou que o chá em saquinhos vendido sob a marca Lipton em todo o mundo levará o selo de comércio justo até 2015. Nos hipermercados o café e chocolate ou cacau certificados também já se encontram à disposição do consumidor.

Carlos Gomes, porém, é céptico em relação a este crescimento exponencial: “O comércio justo é um meio e não um fim em si próprio. As grandes superfícies podem vender estes produtos, mas elas, provavelmente não respeitam toda a cadeia, que vai desde a produção até ao consumo final (relativamente às políticas sociais, por exemplo). No fundo trata-se apenas de uma estratégia de mar-keting”. Certo é que o conceito tem vindo a ganhar força e massa crítica.

 

PRODUÇÃO LOCAL

Falar em comércio justo não implica apenas vender no hemisfério Norte o que é produzido a Sul. “Até porque há muitos povos que estão a vender arroz”, por exemplo, diz Carlos Gomes, “quando não têm o suficiente para alimentar as suas aldeias”. Há sempre que questionar os conceitos e, sobretudo, a forma de os colocar em prática.

Praticar o comércio justo é também comprar localmente. Junto, por exemplo, de produtores que não usem agrotóxicos. É também comprar mel, compotas, azeites e ervas aromáticas produzidas no país, respeitando o ciclo da natureza. Evitam-se gastos aos nível dos transportes e todas as emissões de CO2 que estes acarretam. “Os pequenos produtores têm de aprender a cooperar”, assegura o porta-voz da Mó de Vida. “Ainda estamos numa fase muito incipiente”.

Uma excepção: a proliferação de entregas de cabazes de produtos biológicos ao domicílio. Se são mais caros? Sim. Mas somos meros consumidores ou cidadãos conscientes?

 

POR ONDE TUDO COMEÇOU

O movimento nasceu em 1959, numa pequena cidade holandesa, Kerkrade, pelas mãos de um grupo de jovens católicos que, ao tomarem conhecimento de um universo de marginalizados, explorados e pobres, que até aí lhes era desconhecido, lançaram o slogan: “Comércio não ajuda”. A consciência de que era necessário abrir as portas do comércio aos povos do Sul foi crescendo e, em 1969, surgiu a primeira Loja do Mundo (na Holanda, Brekelen). Em 1971 eram já 120 em todo o país. ONG como a Oxfam, a Brod fur die Welt ou a Caritas promoviam, em paralelo, a formação de organizações locais de comércio alternativo e não tardou que um pouco por toda a Europa Central surgissem centenas de pequenas lojas destinadas a promover e comercializar produtos provenientes do terceiro mundo. A iniciativa prosperou e, em meados dos anos 80, chegou aos circuitos comerciais convencionais. A certificação dos produtos é, actualmente, liderada pela FLO (Federation of Labelling Organisations).

 

Os 9 Mandamentos

 

1. Respeito e preocupação pelas pessoas e ambiente;

 

2. Criação de meios e oportunidades para os produtores melhorarem as suas condições de vida e de trabalho, incluindo o pagamento de um preço justo;

 

3. Abertura e transparência quanto à estrutura das organizações e todos os aspectos da sua actividade;

 

4. Envolvimento dos produtores, voluntários e empregados nas tomadas de decisão;

 

5. Protecção dos direitos humanos, nomeadamente os das mulheres, crianças e povos indígenas;

 

6. Consciencialização para a situação das mulheres e dos homens enquanto produtores e comerciantes, e promoção da igualdade de oportunidades;

 

7. Promoção da sustentabilidade através do estabelecimento de relações comerciais estáveis de longo prazo;

 

8. Educação e participação em campanhas de sensibilização;

 

9. Produção tão completa quanto possível dos produtos comercializados no país de origem.

 

Actualmente existem apenas 3 Lojas do Mundo em Portugal:

- Mó de Vida, Calçadinha da Horta, 19, Pragal, Almada - Tel. 212 720 641

- Loja do Mundo de Braga, Rua D. Diogo de Sousa, 119, Braga - Tel. 253 278 351

- Loja do Mundo do Porto - Parque da Cidade

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