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TRÊS DIAS A APOIAR A INOVAÇÃO E A I&D
Três dias a apoiar a inovação e a I&D
2017-01-27
Três dias a apoiar a inovação e a I&D

A Sociedade Ponto Verde inovou há 20 anos com a implementação do sistema integrado de gestão de resíduos de embalagem, e com isso deu início a todo um processo de transformação a que hoje se chama ‘economia circular’. Desde o início, colocou a investigação e desenvolvimento como pilares estratégicos da sua atividade. Os resíduos constituem cada vez mais um mercado de criação de valor. Um estudo realizado em 2013 pela SPV para avaliar o impacto da gestão de resíduos de embalagens a nível económico, social e ambiental aponta que só este setor criou 2400 postos de trabalho. Se se acrescentar o setor dos resíduos urbanos, esse valor sobe para 12 a 15 mil postos de trabalho, num país que produz, no geral, cerca de 30 milhões de toneladas de resíduos. Foi com os olhos postos nesta realidade e no seu potencial que esta entidade deu mais um passo inovador e pioneiro ao promover uma plataforma – a Ponto Verde Open Innovation – de suporte a projetos que contribuam para o desenvolvimento dessa cultura de mudança e de sustentabilidade. Caracterizada como um acelerador de empresas para a investigação, desenvolvimento e inovação no setor do ambiente, reúne parceiros de prestígio das mais diversas áreas – empresarial, académica, científica, ambiental, tecnológica, da banca e do empreendedorismo –, que apoiam institucionalmente e contribuem para a sua divulgação.

 

“Tendo em conta todo o nosso historial de conhecimento e o nosso papel no setor dos resíduos, é importante para a SPV não se cingir apenas àquilo que são resíduos de embalagem, mas continuar a fomentar algo mais vasto, como é o caso da inovação, investigação e desenvolvimento. É isto que estamos a fazer com o Ponto Verde Open Innovation, que deu origem a este bootcamp”, refere Luís Veiga Martins, diretor-geral da Sociedade Ponto Verde.

 

À procura de financiamento

O bootcamp, nesta sua primeira edição, decorreu em Lisboa, no início de outubro, tendo contado com 14 equipas participantes e idêntico número de projetos. O mesmo esteve a cargo da Nova Business School e da VdA, Vieira de Almeida Sociedade de Advogados, que durante três dias procuraram capacitar as equipas promotoras e respetivos projetos para o desafio de convencerem potenciais investidores e financiadores a apadrinharem as suas ideias. Ou seja, “dar-lhes valências em termos de gestão (económico-financeira e jurídica) para, no último dia, passarem pelo crivo dos parceiros de capital, não com o foco de financiamento garantido em vista, mas com o de possível financiamento”, explica ainda Luís Veiga Martins. A própria SPV apresentou-se como uma eventual financiadora de projetos relacionados com o seu âmbito de atividade: embalagens e resíduos de embalagens.

 

Até chegarem aqui, os 14 participantes passaram por várias fases ao longo da sua candidatura. Uma vez cumpridos todos os requisitos para a aceitação dos projetos a concurso, em número que excedeu as expectativas da organização, os mesmos foram avaliados pela StartUp Lisboa e pela EY antes de serem submetidos a um advisory board composto por 12 personalidades independentes, que os analisou e selecionou. Lembramos que podiam candidatar-se universidades, start-ups com até três anos de implementação no mercado, empresas e pessoas singulares maiores de 18 anos.

 

Do programa do bootcamp constavam dois dias de trabalho intenso, que começaram com um pitch (apresentação de 60 segundos de cada projeto), seguindo-se vários workshops, teamwork e mentoring, e as apresentações finais no terceiro e último dia. Os projetos encontram-se agora em fase de avaliação por parte dos investidores/financiadores.


OS 14 PROJETOS EMPREENDEDORES 
A concurso estavam duas categorias: uma de inovação e outra de investigação e desenvolvimento. Estes são os projetos.

 

 

  • Projetos Categoria Inovação

 

BACTENERGIA 
Transformar águas residuais em energia

Este projeto necessita de apoio para a criação de uma start-up de base biotecnológica focada no desenvolvimento e comercialização de um sistema integrado, biotecnológico, autossustentável, alicerçado na utilização de microrganismos com capacidade para efetuar um tratamento mais eficiente de águas residuais industriais. Simultaneamente ao tratamento, a tecnologia proposta permite gerar diretamente a energia elétrica necessária para assegurar o funcionamento do sistema. Esta nova tecnologia poderá ser implementada como um sistema único de tratamento das águas residuais ou como um complemento de unidades já existentes.

 


ECOINCER
Mudar o paradigma
 

Propõe um sistema de tratamento, valorização e comercialização de escórias provenientes da incineração de resíduos sólidos urbanos (RSU), transformadas em matéria-prima para a indústria cerâmica, vidreira e cimenteira. O produto obtido é, segundo a equipa promotora, de qualidade semelhante ou superior a outras matérias- -primas existentes e pode substituir de forma mais económica algumas delas. Este sistema permite, assim, uma redução de custos não só com as matérias-primas como também nos consumos energéticos e hídricos durante todo o processo de preparação. Já realizaram ensaios industriais e semi-industriais em empresas na área da cerâmica e constataram que existe aceitação do produto, por permitir uma efetiva redução de custos. A equipa especializada em engenharia cerâmica e vidro propõe-se mudar o paradigma de todos estes setores.

 


TYOOLIP
Luxo a partir do lixo

A Tyoolip pretende ter um lugar de destaque no mercado do calçado através da reutilização de material termoplástico para a confeção de calçado de design e qualidade internacional, totalmente reciclável. Acreditam que o projeto tem grande utilidade para a economia circular, bem como para o desenvolvimento da economia portuguesa no seu todo, através de um aumento das exportações, bem como para a reestruturação de outras empresas que decidam associar-se ao projeto, que consideram inovador e único. Neste momento ainda estão na fase de protótipo, pelo que precisam de investimento para passar à fase de produção e comercialização. O objetivo da Tyoolip é criar moda de luxo a partir do lixo.

 


ECOBOX SYSTEM
Ecopontos intelingentes

O projeto apresentado remete para um sistema de monitorização em tempo real do nível de enchimento dos ecopontos, permitindo reduções de custo ao possibilitar a otimização das rotas de recolha (o ecoponto só será esvaziado quando estiver cheio), aumentar os níveis de reciclagem e reduzir as emissões de CO2, envolvendo o cidadão em todo o processo com ferramentas próprias. Segundo um estudo já realizado, a poupança pode chegar a 55 mil euros anuais. A equipa está a desenvolver uma série de módulos para tornar este sistema único, personalizável. Os cidadãos registados poderão saber as datas de recolha, cruzar dados do sistema com outros, reportar em tempo real a existência de um equipamento partido ou avariado, gerir a recolha porta a porta, etc. É um produto escalável e facilmente internacionalizável.

 

 

ECOPONTAS & PAPACHICLETES
Ruas mais limpas
 

Solução para a redução e valorização de resíduos de cigarros e pastilhas elásticas que surge de um problema: não haver, em locais públicos, onde os depositar. O projeto já está patenteado e, a título experimental, instalaram algumas unidades na cidade de Guimarães, na forma de duas estruturas de design inovador, de modo a chamar a atenção dos transeuntes para a problemática e incentivar a sua utilização. Os resultados foram muito positivos, com a recolha de 45 mil pontas de cigarro e cinco mil pastilhas elásticas num curto espaço de tempo. Neste momento decorrem ensaios preliminares para ver qual a valorização deste tipo de resíduos, para que contribua não apenas para a sustentabilidade ambiental como também económica do próprio projeto.

 


O2W
A melhor vela do mundo

Tecnologia para a valorização de resíduos de óleos alimentares, que constituem um problema ambiental já que acabam frequentemente no esgoto, poluindo os recursos hídricos do planeta. A solução O2W – The Greatest Candle in The World destina-se ao consumidor e permite transformar os óleos de cozinha usados em velas decorativas, numa perspetiva de autorreciclagem. É constituída por um kit que contém o material básico para fazer as velas e um copo medidor para levar ao micro-ondas, cera perfumada Oil2Wax, seis pavios e suportes de pavio. Em paralelo decorre um programa educativo centrado nas escolas, para sensibilizar as crianças para a problemática dos óleos e gorduras no ambiente. Procuram investimento para desenvolver uma ferramenta: uma garrafa que permita a filtragem e o armazenamento do óleo usado em casa.

 


GREENBIN
Recolhas com valor acrescentado

O principal objetivo deste projeto está na otimização e redução de custos com a recolha de resíduos, dado ser uma atividade dispendiosa. Combina sensores com um serviço e uma aplicação e permite juntar numa plataforma todas as ferramentas de gestão que trazem valor acrescentado à recolha de resíduos. Através dessa plataforma os gestores conseguem reduzir as distâncias percorridas em 45%, o tempo em 40% e o número de rotas em 25%, e ainda saber quanto irão ganhar com essa redução. O negócio assenta na venda de licenças mensais com os serviços que incluem a venda ou aluguer de sensores. Estes possuem uma autonomia para mais de 10 anos e não necessitam de manutenção. Presentemente encontram-se a negociar a solução para distribuição no mercado ibérico através de uma multinacional e em Portugal têm vários projetos piloto ativos. O investimento pretendido direciona-se sobretudo à aceleração do projeto, a expandir para outras áreas e a inundar o mercado.

 


BOOK IN A LOOP
Economia de partilha na educação

Consiste numa plataforma digital para compra e venda de manuais escolares. Tem por base uma start-up dedicada a trazer as virtualidades da sharing-economy para o mercado da educação, juntando quem tem a quem precisa e propondo-se resolver um problema conhecido de todas as famílias portuguesas: os gastos com manuais escolares no início de cada ano letivo. Como funciona? As famílias com livros de que não precisam acedem à plataforma online e chamam um estafeta ou procuram o ponto de recolha mais próximo para a entrega dos livros. Estes são submetidos a uma avaliação segundo critérios de qualidade e só depois serão disponibilizados para venda a 40% do preço de capa, sendo metade desse valor reservado a quem entregou os manuais. O projeto já se encontra em fase de experimentação. Após consolidar a sua posição em Portugal, a Book in a Loop tem já em vista mercados como o da vizinha Espanha, Brasil e América Latina, onde o mesmo problema se verifica.

 

  • Projetos Categoria Investigação e Desenvolvimento

 

BASIC WASTE MANAGEMENT
Otimizar o circuito de recolha de resíduos

Este projeto consiste no desenvolvimento de uma aplicação de gestão integrada da recolha de resíduos seletivos em sistemas municipais e autarquias aderentes (SGRU). Propõe-se fazer frente aos principais desafios, nomeadamente a criação de ferramentas de apoio à decisão no âmbito da recolha de resíduos tipicamente de acordo com critérios regionais, especialmente em territórios de baixa densidade populacional, que permitam fundamentar investimentos. Exemplos: o tipo de recolha, de camião ou de contentor mais adequado. O foco é encontrar uma solução que otimize distâncias, tempo, quantidades de resíduos recolhidos e consumos de combustível, entre outros fatores que fazem parte do circuito de recolha, gerida através de uma plataforma atualizada diariamente que permita fornecer indicadores ou índices de qualidade de serviço e de desempenho.

 


ECOEMB
Produzir sacos ecológicos
 

Aqui prevê-se o desenvolvimento sustentável de filmes bioplásticos de segunda geração a partir de resíduos biodegradáveis oriundos do setor agroalimentar, ricos em celulose. A ideia surgiu porque a equipa verificou que o principal destino destes resíduos era o aterro. Para evitá-lo, os resíduos selecionados serão alvo de um tratamento para extração e modificação da celulose, que será posteriormente utilizada na produção do filme bioplástico. Este terá especificações e propriedades que tornam possível a sua utilização como matéria-prima na produção de vários produtos, entre os quais sacos, mas também na indústria do calçado e automóvel. Espera-se assim cumprir com as diretivas e legislação ambiental, privilegiando a valorização dos resíduos, em detrimento da sua deposição. O investimento nesta fase seria aplicável na continuação da investigação para verificar se o projeto é ou não eficaz como promete.

 


BIO3PLAS
Fungos biodegradantes 

Centrado no problema dos plásticos existentes em ambiente marinho. No futuro próximo, a proporção da poluição poderá ser a de haver um plástico no mar por cada peixe. O projeto assenta na investigação para o desenvolvimento de métodos para a biodegradação de plásticos e para a compreensão dos mecanismos de biodegradação. A solução pretende utilizar fungos e nutrientes apropriados para produzir biomassa. Esta, por seu lado, pode ser usada para produzir energia, como aditivo ou na alimentação de animais. No processo, os fungos produzem enzimas que podem ser utilizadas em várias indústrias. Um dos objetivos será contribuir para preservar o capital natural — ecossistemas e biodiversidade — que se encontra em perigo. O investimento pretendido destina-se essencialmente ao licenciamento e desenvolvimento da tecnologia.

 


MOBILE-PRO-U
Mais vidro reciclado 

Sistema integrado, com base numa unidade móvel, para processamento e recuperação de casco de vidro a partir do rejeitado pesado e das escórias. Esta ideia tem como objetivo aumentar significativamente a taxa de reciclagem de vidro, uma vez que cerca de 50% das embalagens de vidro colocadas no mercado não são recicladas. Para impedir esta situação, uma das soluções possíveis seria aumentar a recolha seletiva com mais campanhas de sensibilização, que parecem não estar a ser suficientemente eficazes. Outra hipótese seria instalar um processo de recuperação de casco de vidro em cada uma das 23 instalações de valorização orgânica e energética, hipótese já estudada e que não é economicamente viável. Perante este contexto, a solução Mobile-pro-U constitui um processo tecnológico que poderá ter uma eficiência de 60% a 80%. A ideia consiste em integrar esta tecnologia num camião TIR, que se transforma numa unidade móvel capaz de ir a todas aquelas instalações recuperar o vidro.

 


RECYCLABLES ONLINE
Mais reciclagem, menos custos
 

Sistema de monitorização em tempo real da produção de resíduos urbanos recicláveis, através de sensores para medição de peso e volume, que promete garantir a sustentabilidade ao incentivar a reciclagem. Isto porque cada tipo de resíduo gera custos (resíduos indiferenciados) ou receitas (resíduos recicláveis), logo, será mais vantajoso para os grandes produtores aumentarem a reciclagem. Segundo os promotores do projeto, a solução tecnológica apresentada revela-se “robusta, de baixo custo e fiável, para além de inovadora no mercado”, porque vai além de um simples sensor de volume, ao incluir igualmente um sensor de peso, e é este que depois se traduz na relação custo-benefício para os produtores, ao permitir gerar mais receita. Funciona com sistema wireless, transmitindo a informação às entidades gestoras, que depois farão a gestão dos dados. Precisam de investimento para desenvolverem um protótipo que permita fazer um ensaio com 50 contentores já existentes e respetivo acompanhamento e avaliação técnica.

 


RESHAPE IT
Reciclar é criar 

O projeto pretende sensibilizar para a reciclagem de embalagens pela via inovadora da impressão 3D. Tem como principal objetivo a demonstração de todo o processo: recolha, reciclagem e impressão de objetos. Os objetos criados com materiais reciclados através deste método podem ter várias utilizações: desde ferramentas educativas para os alunos – como, por exemplo, um polígono ou um esquema 3D de uma ligação molecular – a objetos para uso em sala de aula, como réguas e esquadros, porta-canetas e suportes diversos. O projeto tem na base um conjunto de atividades de investigação e desenvolvimento para materialização de todo o conceito e montagem de uma unidade piloto e o objetivo técnico de obtenção de um material/filamento ecológico capaz de ser utilizado por tecnologias de fabricação aditiva convencionais (impressoras 3D low cost).

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