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O BÊ-Á-BÁ DO PAPEL
O bê-á-bá do papel
2010-11-01
O bê-á-bá do papel

Para impressão ou uso doméstico, em cartão ou em folhas, o papel não é todo igual. 
E a forma como o tratamos condiciona a sua reciclagem. 
Bem-vindo ao admirável mundo do papel!

 

Na era digital ainda há lugar de destaque para o papel: as bancas estão repletas de jornais e revistas, os livros electrónicos estão ainda a dar os primeiros passos, os apontamentos são tirados a caneta e registados em blocos, o e-mail não aniquilou a correspondência impressa. Há mesmo quem considere que o registo em papel nunca desaparecerá – o prazer de sentir a textura das folhas tem adeptos ferrenhos. E o papel está em todo o lado, da conta do supermercado ao livro de estudo. Não admira, por isso, que em 2009 a Sociedade Ponto Verde (SPV) tenha recolhido mais de 286 mil toneladas de embalagens de papel. O ecoponto azul é inundado diariamente por jornais da véspera, revistas lidas e relidas, cartões de embalagens, envelopes de correspondência. Mas o que acontece depois?

 

Papel gera papel

 

A separação e o acondicionamento dos resíduos de papel em casa dita, em parte, o sucesso da reciclagem. O contacto com gorduras ou matérias perigosas deve ser evitado para não comprometer a qualidade final do processo. Após colocação no ecoponto, os papéis são recolhidos pelos SMAUT – Sistemas Municipais e Autarquias. Segue-se um processo de triagem, com a remoção de elementos contaminantes como agrafos, plástico, cordas e fios, cuidados que normalmente a pessoa não tem em casa quando separa os resíduos. “O cimento pode tornar-se contaminante. Mas se o papel for desempoeirado, já não há problema. Aliás, a saca de cimento é um bom papel de embalagem”, diz João Lança Rodrigues, secretário-geral da Recipac, Associação Nacional de Recuperação e Reciclagem de Papel e Cartão.

Quase todo o papel pode ganhar nova vida após ser utilizado. Cada vez mais há soluções que permitem o reaproveitamento das fibras. Por exemplo, hoje “já não há problema com o papel couché, que costumo dizer que é papel pedra, porque tem mais bicarbonato de cálcio do que fibra”, explica o secretário-geral da Recipac. Com a evolução da tecnologia, poderão as embalagens tetra brik, em cartão e alumínio, usadas para acondicionar líquidos, vir a ser depositadas no papelão? “Não me custa aceitar essa situação”, responde. Mas para já tal ainda não acontece, apesar de ser um erro muito comum – as embalagens de líquidos são mesmo no ecoponto amarelo.

Quando o papel está livre de contaminantes é enfardado em lotes só de embalagens ou mistos (papel embalagem e não embalagem), e colocados em leilão. Por mês organizam-se cerca de 54 leilões electrónicos, coordenados pela SPV, nos quais participam retomadores e recicladores. Os primeiros são comerciantes que adquirem papel para o revender em lotes adequados às necessidades específicas dos clientes; os segundos são industriais que transformam o papel. Seja qual for o caso, nesta fase ocorre a valorização do papel usado.

Segue-se então o processo de reciclagem e a transformação que origina… mais papel. “Não é um fim inesgotável – de cada vez que sofre uma refinação há perda de fibras”, explica o responsável da Recipac. O processo não é infinito – o papel reciclado tem, no máximo, cinco ou seis ciclos de vida. “Mas não há um papel que se coloque na máquina e seja todo rejeitado, que se desfaça em fios”, diz. Até porque mesmo o papel reciclado leva pasta virgem. Pode perder-se mais ou menos fibra, mas uma parte é sempre aproveitada. Diferentes tipos de papel têm perdas distintas. O papel impresso, ao qual depois é retirada a tinta, é dos que sofre maiores perdas – cerca de 30% –, por oposição ao cartão de embalagem, com quebras de 10% a 15%. É também preciso ter em conta a qualidade das máquinas utilizadas neste processo. “Em Portugal há máquinas com quase 100 anos que devem ter perdas de 30% em papel de embalagem”, aponta João Lança Rodrigues.

 

Reciclado versus papel virgem

 

Na hora de escolher, qual o papel mais amigo do ambiente: reciclado ou de pasta virgem? A resposta não é simples. Ao reciclar, os recursos naturais são usados de forma mais eficiente – a mesma árvore origina várias gerações de papel. Mas a reciclagem também implica consumo de água e energia, e uso de aditivos para branquear o papel. Claro que a pasta virgem implica o corte de árvores, o recurso a energias fósseis e consumo de água. Mas segundo a European Recovered Paper Council, criada após a primeira declaração europeia sobre recuperação de papel, em 2000, não seria possível usarmos apenas papel reciclado. Por um lado, 20% dos papéis não são recicláveis. Por outro, não seria economicamente viável nem correcto em termos ambientais recolher todo o papel, tal o volume de transporte que implicaria. Além disso, o papel não pode ser reciclado infinitamente e necessita de fluxo constante de fibra virgem para ter níveis de qualidade aceitável. Escolhas amigas do ambiente passam por adquirir papel reciclado e, quando for necessário, adquirir papel 100% virgem, optar por marcas certificadas pela FSC (Forest Stewarship Council), que garante a boa gestão das florestas. Tudo bons papéis. E sem fundamentalismos.     

 

 

Sabia que:

… a floresta portuguesa ocupa 38,4% do território, ou seja, 3,4 milhões de hectares?

… em 2009 Portugal recuperou 55% do papel consumido e reciclou 26%? 

… quase 70% das embalagens de papel colocadas no mercado foram recuperadas?

… Portugal é o 4º maior produtor europeu de pasta e o 11º maior produtor europeu de papel e cartão?

… a produção nacional de pasta virgem cresceu 7,9% em 2009? 

DESCUBRA AINDA