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PATUDOS TAMBÉM AJUDAM A RECICLAR
Patudos também ajudam a reciclar
2017-04-20
Patudos também ajudam a reciclar

Odia de trabalho começa muito cedo no albergue da UPPA – União para a Protecção dos Animais, uma associação sem fins lucrativos que recolhe e cuida de cães abandonados. Logo pela manhã é preciso alimentar, limpar e tratar dos cerca de 90 “patudos” que habitam o espaço, localizado no concelho de Sintra, e que esperam pacientemente novos donos. No ano passado foram adotados 105 animais, mas o albergue nunca está vazio. Pelo contrário. Neste momento, a associação está com lotação máxima, porque, diz Sandra Ventura, uma das fundadoras, “há uma grande crise de valores e as pessoas entregam os cães às associações ou abandonam-nos nas ruas quando os animais deixam de encaixar nas suas vidas”.

 

Para ajudar a financiar esta gigantesca tarefa de defesa dos animais em perigo, os responsáveis da UPPA tiveram uma ideia inovadora: reciclar os resíduos produzidos diariamente pelo albergue e recolher ainda todas as embalagens trazidas por sócios e vizinhos para depois as encaminharem para empresas especializadas. O valor recebido por cada quilograma de resíduos enviados para reciclagem é depois usado para fazer face às inúmeras despesas diárias do albergue: alimentação, veterinário, mantas, entre muitas outras.

 

Enquanto nos faz uma visita guiada pelo albergue da UPPA, Sandra Ventura explica que a ideia da reciclagem surgiu sustentada em duas causas principais: contribuir para um ambiente melhor e também para sensibilizar a sociedade para a necessidade de adoção e apadrinhamento de cães abandonados.

 

Foi por estas duas razões centrais que a UPPA se tornou também um ponto de recolha de materiais recicláveis – latas de metal, plástico e até papel, entre muitos outros –, que são depois vendidos a peso a empresas especializadas em transformação de resíduos, o que constitui uma importante fonte extra de receita. Todos levam a tarefa da reciclagem tão a sério que até os “patudos” ajudam na separação das embalagens, garante a fundadora. 

 

Uma “aventura” com dez anos

 

Foi o amor pelos animais que juntou as duas fundadoras, Sandra Ventura e Filipa Laginha, e mais alguns amigos e familiares no ano de 2007. O início da UPPA foi atribulado e marcado, sobretudo, pela força de vontade das fundadoras. Juntas foram conseguindo angariar algum dinheiro para alojar três a quatro cães em hotéis caninos, alugando boxes a um preço “especial e fixo”. Para aumentarem a visibilidade do seu trabalho apostaram forte nas redes sociais, através das quais conseguiram angariar mais associados, padrinhos, famílias de adoção e todos aqueles que quisessem juntar-se ao projeto com trabalho, donativos e voluntariado.

 

Durante cinco anos, entre 2007 e 2013, bateram a várias portas, mas sem qualquer sucesso. Não só precisavam de fundos como também de um espaço próprio onde pudessem edificar um albergue. Finalmente, em 2013, foi doado à associação o terreno onde hoje se encontram e também as verbas necessárias para construir várias boxes (atualmente cerca de 23), nas quais os animais para adoção estão alojados com dignidade. Os cães seniores deambulam pachorrenta e livremente pelo albergue, sempre à procura de um carinho. “Literalmente, salvamos as vidas destes animais que estão connosco”, acrescenta Sandra com um sorriso rasgado.

 

Voluntários metem mãos à obra 

 

Hoje, a associação conta com uma equipa de 70 pessoas, sobretudo voluntários, que se vão juntando à instituição com a missão de ajudar. No dia da nossa visita, o espaço estava cheio, entre voluntários e visitantes. O alvoroço era grande entre a população canina: o dia era de passeio e o almoço avizinhava-se. Na cozinha, o voluntário de serviço preparava os manjares caninos: grandes tigelas de arroz e frango. Durante a semana, os habitantes do albergue ficam entregues à única funcionária a tempo inteiro, a “tratadora” Solange, que diariamente toma conta da “matilha” de várias raças, tamanhos e idades. Sandra explica: “Todos trabalhamos nas nossas profissões fora da UPPA, e por isso criámos esta dinâmica. A Solange trabalha de domingo a sexta, o dia todo, e os voluntários ajudam aos fins de semana, férias e folgas, mas acabam por ter igualmente um trabalho diário, pois a associação funciona como uma pequena empresa. Há que coordenar a equipa de voluntários, tratar da comunicação, da contabilidade, de responder a e-mails, do atendimento telefónico. Nunca estamos parados dentro e fora do albergue, e por isso nunca somos de mais. Também por este motivo as visitas de apadrinhamento ou de adoção são tratadas sempre ao sábado, pois durante a semana seria impossível, tal como os passeios, que ficam para o fim de semana.”

 

Para fazer face às múltiplas despesas recorrem ao dinheiro das quotas pagas pelos sócios (20 euros por ano), dos apadrinhamentos, dos donativos e da reciclagem. Tudo o que recebem aplicam totalmente no cuidado com os animais que têm à sua guarda, seja em alimentação, cuidados veterinários, manutenção do albergue, entre outros custos. “Ajude-nos a ajudar mais e melhor” é o apelo que a UPPA faz à comunidade, tanto a nível de voluntariado como de apadrinhamentos, de associados ou parcerias.
 

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