Logo Sociedade Ponto Verde

CASTING À REUTILIZAÇÃO
Casting à Reutilização
2013-05-17
Casting à Reutilização

Patrícia Vasconcelos, que profissionalizou os castings em Portugal e fundou uma escola de actores para cinema e televisão, vive a cidadania activa de forma natural.
Tão natural, que teve de “puxar pela cabeça” para falar com a RECICLA sobre os seus eco hábitos.

 

“Isto é recente”, diz Patrícia Vasconcelos assim que se senta na esplanada num jardim perto da sua casa, onde conversou com a RECICLA. “Isto” é um rabisco grafitado num busto que ali se encontra. “Sou muito bairrista”, assume. Para ela, a casa não é apenas da porta para dentro. “Quando cheguei aqui dava por mim, ao fim-de-semana, a dobrar o cartão que as pessoas deixavam ao lado do ecoponto e a coloca-lo lá dentro”. E se um dos ecopontos estiver sujo “sou capaz de ir lá com uma esfregona limpar”. Com à-vontade, Patrícia Vasconcelos aborda as pessoas que deitam lixo para o chão: “Deixou cair o maço de tabaco”. Até agora, só lhe responderam mal uma vez. “Esse tipo de reacção não me faz calar. Mas fico danada”, reconhece.

A cidadania faz-se de gestos e atitudes. Só que para a fundadora da escola de actores para cinema e televisão Act, em Lisboa, são rotinas tão intrínsecas que é difícil enumerá-las. É como perguntar quantas vezes inspira. Como as conversas são como as cerejas, ficámos a saber que Patrícia Vasconcelos reutiliza até à exaustão. “Se me dão um guardanapo num café com um croquete, não deixo lá esse guardanapo. Tenho filhos, tenho um cão, há sempre qualquer coisa para limpar”, diz. As embalagens de comida take-away, por exemplo, podem levar o lanche da filha para a escola, e a caixa que acondicionava uma vela serve para guardar pincéis. “Tenho imensa dificuldade em deitar coisas fora porque acho que me podem ser úteis. E normalmente são”.   

O que também não deita fora é comida. Aliás, Patrícia pertence à associação Dariacordar, que através do Movimento Zero Desperdício evita que alimentos bons para consumo acabem no lixo. E gostava de implementar um novo hábito nos restaurantes: “A pessoa, quando pede o prato, pergunta: ‘Vem com o quê?’”. Então, o acompanhamento de que não gosta ou que não quer não vem para a mesa. Ao hábito de levar para casa a comida que sobrou numa refeição fora, o chamado doggy bag, Patrícia rebaptizou de smart people’s bag. Sem qualquer pudor recorda a ocasião em que, num jantar na Lx Factory, em Lisboa, pediu para sobremesa as duas trouxas-de-ovos que, intactas, tinham ficado no prato da mesa em frente à sua. “Acho o desperdício criminoso”. E às razões sociais juntam-se as ambientais: a destruição de comida é responsável pela emissão de gases com efeitos de estufa.     

Quase como uma fórmula matemática, menos desperdício e mais reutilização resulta na partilha. De roupa, de livros, de dvd, do jornal do dia… Ente amigas, Patrícia tem por hábito trocar a roupa dos filhos, dos mais velhos para os mais novos, e não deixa os livros ganhar pó. “Foram escritos com amor e vontade de serem lidos. Se ficarem estagnados numa estante ficam tristes”. Por isso, passa-os de mão em mão. Os livros que já foram dos seus dois filhos mais velhos estão agora com o seu sobrinho. Há alguns anos deixou de comprar jornais e revistas, mas lê-os em cafés. Única excepção: a Elle francesa, da qual é assinante desde os 18 anos. Depois de lida, deixa-a na Act, no cabeleireiro… Partilha + reutilização = menos desperdício.

 

Porta-a-porta

Patrícia Vasconcelos consome produtos frescos e da época. “Não é sequer uma preocupação”, afirma. É uma questão de lógica: “Estou a pisar esta terra; como o que ela me dá”. E aderiu, há muito, aos cabazes entregues em casa. Com regularidade encomenda fruta e legumes à Herança Rural (http://herancarural.com/), de produção biológica, enquanto o peixe vem de Sesimbra, através da loja.peixefresco.com.pt. Saúde no prato e no planeta.

 

Prendas de afectos  

No dia do seu aniversário, os filhos da “rainha dos castings” oferecem-lhe prendas caseiras, a transbordar de amor. Para quê gastar dinheiro a comprar uma lembrança ou desperdiçar materiais? Afinal, o afecto não tem preço e pode ser expresso de mil e uma maneiras. Há vários anos que Thomas, o filho mais velho, escreve-lhe um poema, que Patrícia emoldura e coloca na cozinha, enquanto Laura, a sua filha com 9 anos, faz-lhe um desenho. Mas para o ano também será um poema: já está prometido.

 

Zero desperdício

Simples e prático: depois utilizar a botija de água quente para se aquecer, Patrícia Vasconcelos reaproveita o precioso líquido para regar as plantas que tem em casa.

 

Armários de memórias

Porque os bons momentos são para recordar (e acalentam a alma), Patrícia enche as portas dos armários da cozinha com fotografias. E os abat-jours, prendendo as imagens com molas. Não só dispensa molduras (e o respectivo consumo de materiais) como decora a casa de forma original.

 

Mulher de mil talentos  

Filha do realizador António-Pedro Vasconcelos, Patrícia nasceu em Lisboa em 1966. Viveu fora de Portugal de 1976 a 1988. Quando regressou, chegou a dizer ao pai que “adorava vir a tomar conta do lixo na cidade de Lisboa”. Seguiu por outro caminho e estreou-se como directora de casting em 1989. Hoje é a “rainha” dos castings, responsável pela seleccção de actores para filmes nacionais e estrangeiros, programas e séries para a televisão, e filmes publicitários. Convidada, ao longo dos anos, a ensinar técnicas de casting na Escola Superior de Teatro e Cinema em Lisboa, e na Academia Contemporânea do Espectáculo no Porto, criou no Verão de 2000, com Elsa Valentim, os Act – Workshops Iniciação às Técnicas do Actor para Cinema e Televisão, que deram origem, no ano seguinte, à Act, escola de actores para cinema e teatro. Dá ainda aulas na Escola Superior de Teatro de Cascais. O talento de Patrícia não se esgota aqui. Em 2007 lançou o primeiro disco Se o amor fosse só isso. Os seus dotes musicais podem ser escutados nas Jazz Nights, no Altis Belém Hotel & Spa, em Lisboa (próximas actuações: 24 de Maio e 28 de Junho). Em 2010 realizou o seu primeiro documentário, O meu Raul, sobre a vida de Raul Solnado.

 

DESCUBRA AINDA