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15 ANOS A RECICLAR
15 ANOS A RECICLAR
2011-09-01
15 ANOS A RECICLAR

Em Novembro a Sociedade Ponto Verde celebra 15 anos de actividade.

Os números não enganam: a quantidade de material reciclado aumenta a cada ano que passa.

Conheça os principais marcos que compõem a história de sucesso desta organização.

 

Reciclar é dar e receber, e é também uma actividade complexa. A Sociedade Ponto Verde (SPV), entidade privada sem fins lucrativos, tem a tarefa de assegurar o bom funcionamento do Sistema Integrado de Gestão de Resíduos de Embalagens (SIGRE). “O grande desafio é o de congregar os diversos stakeholders e promover equilíbrios, com vista a prestar um serviço de excelência a quem tem a obrigação legal de gerir os resíduos de embalagem dos produtos que colocam no mercado, ou seja,  os clientes da SPV”, esclarece Luís Veiga Martins, director-geral da SPV.

Os embaladores e importadores entram no círculo da reciclagem ao colocarem os seus produtos em embalagens de vidro, cartão ou plástico. Os distribuidores transportam esses bens para as superfícies comerciais que, por sua vez, tornam-nos acessíveis aos consumidores. Um estudo realizado pela SPV em 2006 revelava que 75% dos consumidores depositavam as embalagens vazias nos respectivos ecopontos. Esta adesão da população seria impossível sem o enorme investimento feito pela SPV em campanhas de sensibilização, desde a iniciativa “Separar Toca a Todos”, que em 2004 percorreu o país porta a porta visitando 650.000 lares, passando pelos programas de televisão Ponto por Ponto – Reciclar é Viver, na TVI, e Ponto Verde, no Canal 2, até aos anúncios que marcaram presença nos vários meios de comunicação, com destaque para a televisão. Quem não se lembra de frases como “quando eu comecei a separar eu era deste tamanho – piqueno”, ou de “faça-nos a vontade e separa todas as embalagens que se podem reciclar”, ditas por uns simpáticos “pedinchões”?

As embalagens colocadas nos ecopontos pelos cidadãos alimentam o resto da cadeia de reciclagem. Os operadores de gestão de resíduos asseguram a recolha e triagem e encaminham-nas para os fabricantes, que, por sua vez, garantem a valorização ou reciclagem destes resíduos e consequente reintrodução no mercado.

Hoje o círculo da reciclagem está completo. Mas nem sempre foi assim.

“Sensibilizar toda a cadeia foi uma luta. Se não houvesse reciclagem todo o material proveniente da recolha selectiva iria para aterro, o que não faz sentido”, lembra o comendador Marcel de Botton, presidente da Logoplaste e fundador da SPV. “Na altura já havia recicladores de papel, mas existiam apenas dois ou três de vidro e um de plástico. Hoje há muitos interessados nesta actividade. Houve todo um conjunto de empresas criadas à volta do SIGRE”, constata o fundador da SPV.

 

OS NÚMEROS NÃO ENGANAM

No primeiro ano de actividade a SPV reciclou 1.500 toneladas de embalagens e resíduos de embalagens. Nessa altura cobria 18,1% da população e 14,9% do território. Em 2010 reciclou mais de 667.000 toneladas, chegou a 99,7% da população e esteve presente em 99,3% do território nacional.

 “A SPV ao longo dos seus 15 anos tem cumprido a sua missão de forma extremamente positiva, sendo uma história de sucesso na reciclagem de resíduos de embalagens”, afirma Luís Veiga Martins.

Um dos pontos altos desta história registou-se em 2005, quando a SPV cumpriu e até ultrapassou as metas de reciclagem impostas pela União Europeia a Portugal. A directiva comunitária 94/62/CE obrigava a valorizar um mínimo de 50% do peso total de embalagens comercializadas não-reutilizáveis, com pelo menos 15% para cada tipo de material de embalagem (plástico, aço e alumínio, vidro, papel/cartão e madeira).

No entanto, há um material que teima em manchar a folha de serviço da SPV: o vidro. “Trata-se do material cuja separação através de um sistema de ecopontos se iniciou há mais tempo, na década de 80. Porém é aquele que se tem aproximado da sua meta de forma menos rápida”, reconhece o director-geral da SPV. E justifica: “As embalagens de vidro estão na sua grande maioria no canal HORECA (Hotéis, Restaurante e Cafés) havendo a necessidade de sensibilizar estes agentes económicos para consolidarem hábitos de separação”. Além de dar mais atenção ao canal HORECA a SPV centrou a sua última campanha publicitária neste material. “Para garantir o cumprimento das metas decidimos associar mais uma vez uma causa social à causa ambiental. Assim, lançámos o projecto Reciclar É Dar E Receber. Por cada tonelada de vidro reciclada, a SPV doa um euro para equipar salas de estudo de Instituições Particulares de Solidariedade Social. O objectivo é que crianças de famílias carenciadas tenham ajuda para estudar”, conta Luís Veiga Martins. Os portugueses responderam de forma positiva ao apelo feito em Março de 2011: “As retomas de vidro nestes primeiros sete meses do ano aumentaram”, revela o director-geral.

Esta é uma boa notícia, até porque a meta de reciclagem para 2011 é mais ambiciosa do que a de 2005. No entanto, Luís Veiga Martins está optimista: “Mais uma vez a SPV cumprirá as metas a que se encontra obrigada através da Licença concedida pelo Ministério do Ambiente e pelo Ministério da Economia, que correspondem a reciclar 55% do peso total das embalagens declaradas pelos seus clientes”.

 

QUEM VAI À GUERRA…

Ao longo de 15 anos a SPV debateu-se para tornar a reciclagem mais acessível e eficaz a todos os envolvidos no SIGRE. Foi com esse objectivo que lançou no mercado produtos como o ecoponto doméstico e o ecoponto familiar, em 2004 e 2007 respectivamente, ou criou, em 2006, o “Serviço eXtra urbano”, rede nacional multimaterial de operadores de gestão de resíduos não urbanos de embalagens. Esta rede permite que as empresas, de forma gratuita, encaminhem os resíduos de embalagens que produzem para reciclagem. A SPV também organizou um serviço de fiscalização para pôr fim ao uso abusivo do símbolo Ponto Verde por parte de embaladores.

Outra vertente do compromisso da SPV com a sustentabilidade é, desde a sua fundação em 1996, a aposta em investigação e desenvolvimento (I&D) de novas tecnologias de recolha e tratamento de resíduos. Por exemplo, em 2006 anunciou o investimento de cerca um milhão de euros anuais, durante três anos, para financiar projectos de I&D.

Mais. Esta entidade também se envolveu em vários debates na defesa da sua actividade. Em alguns prevaleceu o seu ponto de vista, noutros não. Entre os sucessos conta-se a criação do certificado VERDORECA. Em 1999 o Governo decidiu que os estabelecimentos conhecidos por canal HORECA só poderiam comercializar embalagens reutilizáveis. A SPV lutou para que a legislação incluísse a possibilidade de venda de produtos em embalagens não-reutilizáveis, desde que estas fossem encaminhadas para um sistema de recolha selectiva (VERDORECA) que garantisse a reciclagem. O Governo acedeu. Entre os insucessos salienta-se a oposição ao número de centros de triagem. “Hoje existem 27 centros de recolha e triagem distribuídos por todo o país. Foram construídos pelo Governo, com ajudas europeias. Nunca estivemos de acordo com a forma como foram construídos e financiados. As opções tomadas eram importantes para nós porque podiam diminuir ou aumentar o preço da triagem e da reciclagem. Aconselhávamos, dizíamos que não estávamos de acordo, pedíamos para ver os custos e eles não mostravam. Foi uma guerra perdida”, lamenta Manuel de Mello, presidente da Nutrinveste e primeiro presidente da SPV. Em relação a este episódio, o comendador Marcel de Botton critica ainda a falta de aposta na produção nacional: “O primeiro tapete construído em Portugal, o de Queijas, foi fabricado na Marinha Grande. Todos os outros foram importados”.

Qual seria o número ideal de centros de recolha e triagem? “O que posso dizer é que noutros países europeus existe um local onde se agrega tudo o que é recolhido pelos municípios, e depois centraliza-se num só tapete, que está totalmente automatizado. Em Portugal há tapetes que trabalham três horas por dia, e só em alguns dias da semana”, acusa o comendador.

Outras batalhas da SPV prolongam-se no tempo. A actividade desta organização resulta em claros benefícios ambientais, mas assenta num sistema financeiro. “A receita gerada pela SPV deve pagar o diferencial entre a recolha selectiva e a normal, e contribuir para aumentar a reciclagem através da comunicação e da sensibilização. No entanto, nunca soubemos quanto custava a recolha selectiva. Os municípios não tinham contabilidade analítica e apresentavam-nos valores exorbitantes”, observa Marcel de Botton. “Os municípios não gostaram, e não gostam, de ter uma organização que está fora da esfera estatal e camarária envolvida na recolha de resíduos”, aponta Manuel de Mello, que presidiu à SPV durante uma década.

 

PRÓXIMA META

A actividade meritória da SPV é reconhecida pelos portugueses. “A SPV era, no final de 2010, a segunda marca associada à responsabilidade ambiental em Portugal”, regozija-se Luís veiga Martins.

Mas também lá fora há quem esteja atento ao bom desempenho desta entidade. A Pro Europe, organização multinacional que gere o Sistema Ponto Verde, a que já aderiram 33 países, escolheu Luís Veiga Martins como novo presidente para os próximos dois anos. O director-geral garante que esta nomeação é prestigiante para a SPV e para o país. E claro que é um reconhecimento pessoal. “É um desafio extremamente aliciante. Implica garantir que a Pro Europe, uma aliança das melhores organizações nacionais na implementação do princípio da responsabilidade alargada do produtor, continua a ser uma referência a nível ambiental, especialmente no campo da reciclagem, proporcionando aos clientes e aderentes o cumprimento de obrigações legais a um custo competitivo”, diz Luís Veiga Martins.

E por cá, quais os desafios da SPV? “O grande objectivo a curto prazo é renovar a actual licença (que termina a 31 de Dezembro de 2011) por um período mais alargado e com objectivos mais ambiciosos”, informa o director-geral.

Levar esta missão a bom porto também depende si. Basta seguir o conselho dos mais novos: “Coloque todas as embalagens usadas e vazias no ecoponto. Nunca falha”.

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