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AUTONOMIA SOBRE RODAS
Autonomia sobre rodas
2014-04-23
Autonomia sobre rodas

Mais do que o fim de uma fase, a tese de licenciatura de Luís de Matos marcou o início de uma aventura que iria mudar a sua vida.

 

Foi para essa derradeira prova académica, na Universidade da Beira Interior (UBI), na Covilhã, onde estudava engenharia informática, que teve uma ideia revolucionária: criar um carrinho de compras que, em vez de ser empurrado, seguisse quem dele precisa. Inicialmente desenhado a pensar nas pessoas com mobilidade reduzida, em cadeira de rodas, o wi-GO revelou-se uma solução útil também para idosos e grávidas, com aplicação quer nos momentos de lazer e recreativos, quer a nível profissional. Afinal, trata-se de "utilizar a tecnologia para facilitar a vida das pessoas", sublinha Luís de Matos, 26 anos. Aliás, essa era uma vontade do jovem engenheiro, que acalentava há muito o sonho de "conciliar a área da saúde com as novas tecnologias". E "embora o wi-GO não esteja directamente relacionado com a área da saúde, acaba por influenciar positivamente a mobilidade das pessoas", afirma. Como? Ao facilitar o transporte e a deslocação de bens, de artigos das prateleiras do supermercado a documentos ou peças de roupa.

 

"O wi-GO é, basicamente, um sistema inteligente que foi feito para servir as pessoas com mobilidade reduzida. E não só. Tem o design de um carrinho de compras, mas é muito mais do que isso. Acima de tudo, é um transportador", explica o mentor desta solução.

 

Supermercados, centros comerciais, aeroportos, a própria residência ou local de trabalho são alguns dos muitos espaços onde pode ser utilizado. "É um sistema que auxilia as pessoas a transportar os seus objectos", resume. Uma pessoa que trabalhe no sector industrial pode usar o wi-GO para transportar objectos de um lado para o outro, ou num hipermercado quando repõe o stock das prateleiras – em vez de empurrar um empilhador, pode o empilhador seguir o funcionário. "Em termos tecnológicos é exactamente a mesma coisa, só muda a carcaça física", diz o inventor do wi-GO, que entretanto criou a empresa IS2you – Intelligent Systems, spin-off da UBI.

 

Aceno Tecnológico

 

Facilitador de rotinas do dia-a-dia, o wi-GO é também simples de usar. "A pessoa tem apenas de se colocar em frente ao wi-GO, fazer um gesto, um ‘olá’ para ele identificar, e está pronto a seguir essa pessoa em detrimento das outras", descreve Luís de Matos.

Feito o reconhecimento, o utilizador coloca no seu interior os objectos ou produtos que pretende transportar. Por exemplo, se estiver no hipermercado, pode percorrer os vários corredores e selecionar os artigos que pretende, e o wi-GO irá segui-lo. No final, "tal como deixamos um carrinho de compras, deixamos o wi-GO na sua base. E está pronto a ser usado por outras pessoas". Esta solução tecnológica é composta por motores, baterias e diversos sensores, entre os quais sobressai o sensor Kinect, e uma câmara de profundidade 3D, "que analisa o meio envolvente e identifica em específico a pessoa que vai seguir".

 

Da ideia, quando terminava a licenciatura, aos dias de hoje, com o equipamento em fase final de prototipagem, prestes a ser testado pelos utilizadores, o wi-GO sofreu vários ajustes e melhoramentos. "Não tem nada a ver", afirma o jovem engenheiro. "Quando comecei a desenhá-lo a pessoa ainda era obrigada a ter um sensor na roupa. Depois, evoluí para o sensor Kinect e vi que podia ser aplicado no wi-GO. Permitia que a pessoa fosse reconhecida sem outro sensor colocado nela própria, ou sem uma roupa especial. Isso foi uma evolução", reconhece.

 

Para o desenvolvimento do wi-GO tem sido fundamental a conquista de prémios que distinguem – e apoiam – projectos inovadores. A começar pelo WinUBI - Concurso de ideias da UBI, quando a invenção de Luís de Matos ainda não saíra do papel. Graças a esta conquista foi possível construir o primeiro protótipo. "Depois fomos ganhando outros prémios e começámos a evoluir no conceito estético, na autonomia da bateria…", recorda.

 

Porque o mérito das boas ideias não conhece fronteiras, não faltam distinções e reconhecimentos também a nível internacional. No ano passado, a equipa do wi-GO conquistou o terceiro lugar na categoria "software design" na final mundial da Imagine Cup, competição de tecnologia promovida pela Microsoft para estudantes do ensino superior. Em Sidney, num total de 72 equipas, o grupo liderado por Luís de Matos obteve a melhor classificação de sempre para Portugal. "Foi, sem dúvida, o prémio que me deu mais gozo ganhar", assume. "Estamos a utilizar tecnologia da Microsoft e ganhar um prémio promovido pela própria Microsoft que é, digamos, a mãe da nossa tecnologia, é sempre um reconhecimento. E depois dá mais prazer quando ganhamos a nível internacional a países que investem muito dinheiro nos projectos que levam a concurso". Com o mérito e a divulgação internacional – preciosos para um projecto que quer chegar a todo o mundo – veio também um prémio monetário no valor de 5.000 dólares.

 

Solução Global


Também a utilidade do wi-GO ultrapassa fronteiras. "Pode ser aplicado em qualquer parte do mundo. Realmente, não existe nenhuma solução sequer parecida", afirma o seu inventor. No entanto, de início "não tinha noção da potencialidade do projecto", nem naquilo que viria a tornar-se. Hoje, 15 pessoas dedicam-se a tempo inteiro a esta solução, jovens sub 30, oriundos da zona centro do país, com formação em áreas tão variadas e complementares como engenharia informática e electrotécnica, gestão, economia e marketing. "Uma equipa multifacetada e nas áreas que nos permitem finalizar o produto", apresenta Luís de Matos. Entusiasmados com o wi-GO, trabalham de corpo e alma para um projecto que ainda não é rentável. "Nenhum membro da equipa recebe salário. Um esforço pessoal em nome de um projecto no qual acreditam. Contudo, "só com a nossa boa vontade não conseguimos. Precisamos de um mínimo de dinheiro para converter isto em produtividade", admite o mentor do wi-GO. Para tal, estão a ultimar o apoio de um investidor através da Business Angels, angariadora de capitais de risco que facilitem o financiamento a start-ups, ponto de encontro entre empreendedores que procuram capital e investidores que procuram oportunidades de investimento.

"Queremos ter o produto completamente pronto até ao final do ano, capaz de escalar para todo o mundo, e avançar com a internacionalização ainda este ano", revela Luís de Matos. A curto prazo pretendem "ter um wi-GO nalguns centros comerciais do país para testá-los e ver a receptividade das pessoas, como é que o material se comporta, …". Feitas as últimas afinações, o jovem engenheiro espera terminar o ano com um wi-GO em cada centro comercial do país e ter uma marca internacional interessada nesta solução tecnológica. "Seria uma vitória para nós", confessa.

A par do wi-GO, a IS2you dedica-se a outras áreas, como o desenvolvimento da publicidade interactiva, que também assenta na utilização do sensor Kinect. E está em curso um projecto na área da saúde, ligado à fisioterapia, mas sobre a qual Luís não avança pormenores. Uma coisa é certa: promete.

 

Texto Teresa Violante

Fotos Cedidas (excepto onde indicado)

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