Desde há muito que Guida Costa Santos, 37 anos, gostava de recolher móveis antigos na rua para
recuperar, transformando-os em algo único, novo e outra vez com vida. Foi, assim, com naturalidade
que, por altura do nascimento do primeiro filho, quando se fartou do trabalho com horários infindáveis
numa agência de comunicação, optou por tirar um curso de marcenaria que haveria de mudar por completo a sua vida. Em 2009, o antigo hobby transformou-se num modo de vida, com a abertura de uma primeira oficina. O local, uma cave sem janelas, não se adequava, porém, às necessidades da embrionária empresa familiar (Guida tem como sócio o marido, Ricardo) e, apenas um ano depois, mudaram-se para um espaço com montra para a rua, perto do Mercado de Arroios, em Lisboa, dando assim início oficial ao atelier Monstros – o nome remete aos grandes móveis antigos que se vêem abandonados pelas cidades.

Esse aspecto é, aliás, ponto de honra da empresa: nenhum dos móveis restaurados é comprado, são todos recolhidos. A ideia inicial passava pela recuperação de móveis de grandes dimensões, os tais “monstros”, como os que Guida herdou da casa dos avós, mas, com o tempo, a artesã alargou a sua actividade a todo o tipo de mobiliário. Ao dar nova vida aos velhos móveis de forma criativa e original, a Monstros assume também a missão de “tentar combater o consumismo desmedido” por móveis novos “através da ecoescolha”, apresentando uma alternativa sustentável a quem quer mudar a decoração da casa, muito para além das lojas habituais. A originalidade das propostas percebe-se de imediato ao espreitar a montra do atelier, onde se podem apreciar secretárias às riscas amarelas e azuis, mesas-de-cabeceira com andorinhas ou uma cómoda revestida a crochet. Tudo feito de forma manual, com recurso a métodos tradicionais, como a marcenaria e a pintura, mas de uma forma contemporânea, com os efeitos desenhados por lacas coloridas e tecidos estampados a darem um toque único de originalidade. Além das criações de Guida, a Monstros aceita também encomendas para recuperar móveis antigos de clientes – actividade que representa grande parte do volume de negócios da empresa. Quanto aos preços das peças, estes variam consoante o número de horas de trabalho e os materiais utilizados. Tanto podem ir de 35 euros por um cabide a preços superiores a mil euros para móveis maiores. Quanto às encomendas, basta enviar um e-mail para Guida, com toda a informação sobre as peças em questão, para receber um orçamento gratuito. É caso para dizer que, com estes simpáticos Monstros, já não há mesmo razão para ter monos em casa… 

Monstros com pernas para andar
Além de vender (o novo) mobiliário antigo, Guida ensina também quem estiver interessado em
transformar os seus “monos” em novas peças. O passo seguinte de Guida passa agora por fazer a marca Monstros crescer cada vez mais para fora da oficina. Nesse sentido, já participaram em diversas feiras de design e artesanato urbano, como a Crafts & Design, no Jardim da Estrela. São também regularmente realizados workshops de marcenaria, pintura e restauro, nos quais ensinam aos
participantes como “transformar os seus ‘monos’ em exemplares únicos e originais” (a duração total do curso é de 10 horas e o custo, por participante, são 100 euros). A criação de uma linha de móveis de crianças, recuperados, claro está, é outro dos planos para o futuro.